7/19/2006

At last

Quem disse que especialização não é grande coisa? O diploma de Cinema na Faculdade da Califórnia, tirado há dois anos por Steven Spielberg, fez bem ao pai dos cineastas pop. O homem se puxou: o thriller Munique é seu título mais adulto, talvez o mais contundente e corajoso de uma vitoriosa (e, ultimamente, irregular) carreira de quase quatro décadas. Para tanto, o diretor brincalhão de monstrinhos amigos (E.T., Contatos Imediatos, A.I.) e outros nem tanto (Tubarão, Jurassic Park) finca seus pés de volta à realidade e num de seus temas prediletos: a eterna batalha entre judeus e palestinos. O pano de fundo são os Jogos Olímpicos de 1972, borrados pelo ataque fatal do movimento islâmico Setembro Negro a onze atletas da delegação israelense. Quem alugar o DVD esperando encontrar mocinhos e bandidos bem definidos, mortes fantasiadas, frases de efeito e todas essas coisas que Spielberg adora vai se arregalar. Ao final de suas quase três horas, Munique resulta seco, cru, um diretaço na nuca. Imagina se o cineasta resolve meter um Pós ou um Mestrado... Uma vaguinha no Top 5 do ano, faz favor. Nota 9.

Bem no comecinho de Superman - O Retorno, uma leve 'prafrentexada' na música-tema e na fonte dos letreiros que embalaram minhas Sessões da Tarde e almofadas por anos a fio já indicava a chegada de "muitas emoções". Quando surge a figura de Marlon Brando em majestoso CinemaScope, então, a gente fica se babando que nem a mulher aquela do depoimento da novela. Não vou negar que o mais-do-mesmo impera durante boa parte da projeção... pra depois dar lugar a um singelo ensaio sobre... é... ah, não vou contar. Bryan Singer, o superboy das HQ's em película. Nota 8.

E O Código Da Vinci, hein? Alguém devia avisar o Ron Howard pra parar de filmar. E isso é para ontem. Nota 4,5.

Vice-Versa, Tal Pai, Tal Filho, Sexta-feira Muito Louca e agora Se Eu Fosse Você. Não adianta, sempre entrego uma risadinha que outra com filmes de troca de identidades. Simplesmente não consegui não gostar, parece ser uma daquelas paixões escondidas ao estilo Rei Majestade. E olha que esses últimos videofilmes nacionais têm me irritado bastante. Nota 6.

Cinebios podem ter alma? Reese Witherspoon é assim tão irritante? Joaquin Phoenix é tão talentoso quanto seu finado irmão River? Johnny & June soluciona questões como essas com toda a competência e sensibilidade do mundo. Só o fato do nosso estômago não se manifestar quando a Reesevel entra em cena já merecia louvores, mas achei esse resumão da vida de Johhny Cash muito legal, mesmo. Pra quem curte um rock de raízes, então, o prato fundo transborda. E Joaquin, já és um homenzinho! Nota 8.

No início dos execráveis-mas-sempre-lembrados 80's, o Spielberg lá de cima resolveu pôr em prática seu potencial empreendedor e foi ser produtor executivo. Apadrinhou e tirou uma baita grana com uma pá de gente talentosa - que o digam Robert Zemeckis, Richard Donner, Tobe Hooper, Joe Johnston... Entre esses, um dos grandes destaques era o bacanudo Joe Dante, diretor dos aconchegantes Gremlins, Piranha e Viagem Insólita. O novo dele, um tal de O Candidato Maldito (Homecoming) faz parte da sempre irregular série Mestres do Terror, da Paris Filmes. Pena que o média-metragem (50 e poucos minutos) que engloba zumbis e eleições presidenciais (??) pertença às frutas podres do pacote. O diretor permanece um B de carteirinha, até segue cumprindo seu papel de dar cutucadinha no sistema... só que dava pra exigir mais. Dexovê aqui cadê o e-mail do Spielberg... Peraí. Nota 5,5.

A história de Caçadores de Mentes lembra um pouco a do sucesso-de-locadora Identidade, com John Cusack, aquele, o do cartaz legal. Só muda a ambientação: o FBI leva pruma ilha sete futuros agentes para um último treinamento, aparece um assassino entre eles e a desconfiança mútua gera tensões e algumas cenas capengas de suspense. Não dava mesmo pra se esperar muito mais do que isso. Foda é que temos aí dois atores de talento mal aproveitados (Slater tem a morte mais ridiculamente filmada dos últimos dez anos - Premonição incluído!) e um roteiro com mais balão que festinha do Infinito. Num domingão chuvoso até quebra o galho, mas tá muito aquém do talento do ex-especialista em ação Renny Harlin (que deve ser lembrado mesmo pelos bons Duro de Matar 2 e Risco Total). Nota 5.

Muito frio Impulsividade. Nem o elenco bacanudo (Vincent D'Onofrio, Tilda Swinton, Vince Vaughn) consegue nos atrair para a historieta em formato Sundance do magrão que segue chupando o dedo aos 17. É tudo muito banal e não merece os ares profundos que se supõe. Legal é que, sempre que o filme ameaça cair no marasmo total, o diretor Mike Mills taca um musicão do Polyphonic Spree ou de Elliott Smith (não sabia que este tinha gravado "Trouble", do Cat Stevens!). Deve agradar, e só, a quem usa óculos quadrados de aro grosso. Nota 6,5.

Haneke é um cineasta único. Código Desconhecido, outra prova disso. Vem, Caché, Caché, vem Caché, Caché, vem, Caché, Caché veeeemm! Nota 7,5.

Ainda tô em dúvida sobre meu seriado preferido. Seria Six Feet Under, do qual fiquei amicíssimo por quatro temporadas, já? Ou então Nip/Tuck, que recém vi a 2ª Temporada? Ainda não sei. Tirem a prova vocês mesmos. Nota 9.

Syriana. Códigos. Nota 7,5.

O Filho do Máskara é aquele tipo perigoso de comédia que nos faz rir justamente pela completa falta de graça. Por Lóki, conseguiram fazer uma seqüência mais estapafúrdia que a de Débi & Lóide!! E o que que o Bob Hoskins tava fazendo lá, me diz?! Nota 1.

Coisa boa quando a gente tira a prova dos nove. Sempre tem aqueles que a gente vê pela primeira vez e termina chapado, estupefato, com a dúvida pairando no ar: foi tão bom assim? Depois de assisti-lo pela segunda vez, dá pra dizer que Sideways é ainda melhor. O filme mais engraçado que eu lembro de ter visto desde... sei lá, acho que desde os Monty Python. Nota 9,5.

A Era do Gelo 2 fica no meio-termo entre um Pixar e um Disney da nova safra. Nada demais, nada de menos, eficientil e era isso. Nota 6,5.

Peter Jackson passou a ser respeitado mesmo foi com Almas Gêmeas (1994). Mesmo que o mundo tenha aberto a boca com O Senhor dos Anéis e seus 20 Oscars, e meu preferido dele seja sempre Fome Animal, Heavenly Creatures é muito bem desenvolvido, adulto e impactante. Só não levou o Oscar de roteiro porque havia ali na frente um tal Pulp Fiction. E, cá entre nós, o neozelandês merecia todos os prêmios por revelar a gracinha da Kate Winslet. Nota 8.

Terror tailandês, como assim? Não fosse a moda dos exemplares asiáticos do gênero, Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado jamais ganharia as telas dessa porra que a gente chama de circuito brasileiro. Tudo bem que tem cabelo preto, água, espelhos e todos os elementos vistos em Ringu, The Eye e outros, porém com um plus: a cena final, em que finalmente é revelado o tal encosto. Medão. Nota 6,5.

Tiveram a coragem de vir me dizer que esse metidinho Camisa de Força era massa. Ledo engano. Mal-feito pacas, quer ser Amnésia, mas não chega aos pés nem de um O Operário. Pelo visto, temos aí um novo Efeito Borboleta. Nota 5,5.

A Caverna pode ir direto praquele pacote de filmes de férias do SBT. Êita porcaria braba! Os caras se esforçaram pra nos fazer chorar de volta a grana da locação: tudo escuraço, uns sustos muito óbvios, ação dormente, atores recém-saídos de Anaconda 2... Com tudo isso, vocês ainda querem saber do enredo? Bem, dá pra dizer que é uma cópia carbono do ótimo Eclipse Mortal, com Vin Diesel (por si, uma variação de Alien): criaturas que atacam no escuro vão detonando uma equipe de gente enxerida e armada até os dentes. Depois de ver o filme, a vontade que dá é se isolar na caverna mais próxima. De desgosto. Nota 3,5.

Finalmente! Só fui ver Ligações Perigosas agorinha. Meninos, coisa impressionante é o John Malkovich. No auge, no auge da forma! E a Glenn Close, então? E aquela lindeza da Michelle Pfeiffer? E que diálogos dos infernos, e que pulso fiadaputa do Stephen Frears!! Nota 9.

Doom é um bom videogame, dos melhores já lançados. Como videogame e cinema não são sinônimos, não há o que discutir: Doom, o filme, é uma bela bosta. Nota 4.

No fone: Guillemots - "Made Up Love Song"