8/25/2006

Hitch das antigas! Badlands, In Cold Blood!!

Isto vai parecer meio gay, mãããns... vá lá: não consigo caber em mim de tanta alegria!! Porque acabo de assistir a um dos filmes da minha vida, A Sangue Frio (1967). Licencinha, mas não dá pra não encaixar uns adjetivos aqui.
O esquema é baseado no livro homônimo de Truman Capote, e quem não conhecia teve sua chance este ano nos cinemas, com o Seymour na pele do escritor: dupla de assaltantes chacina uma família inteira numa cidadezinha do Kansas. Tudo isso por míseros 40 dólares, um rádio e um binóculo.
O estilão imposto pelo diretor Richard Brooks em quase todos os setores garante à produção um frescor que não se vê em tudo que foi feito de 1970 para trás. O elenco é mais naturalista, já não traz aquela empostação que às vezes acaba distanciando as novas gerações dos clássicos. Crássico que é crássico, aqui entre nós, não precisa de astros. Tem é que durar. E isso, este aqui tem de montão. Impressionam os assassinos interpretados pelos desconhecidos Robert Blake e Scott Wilson (sarcasmo e maneirismos idênticos aos de Edward Norton). Quincy Jones fornece ao longa toda a eletricidade que ele necessita, com um tema musical jazzístico-fodástico - exatamente a trilha que eu imaginei praquelas festas descritas por Kerouac em On the Road. Quincy foi indicado ao Oscar, bem como a direção e o roteiro de Brooks e a fotografia em P&B do falecido Conrad L. Hall (de Beleza Americana). As curiosidades são muitas: o estúdio queria a dupla Paul Newman e Steve McQueen como protagonistas, mas Newman preferiu atuar em Rebeldia Indomável, enquanto McQueen optou por Bullitt; para dar autenticidade ao filme, Brooks rodou nas locações onde os fatos realmente aconteceram, incluindo a casa dos Clutters; e as fotos vistas nos quartos da casa são da verdadeira família.
Não há o que discutir: foda até dizer chega. Vou ter que pedir o livro emprestado pra sogrona. De novo. Nota 10.

Tivesse o décimo do carisma de um Jack Nicholson, e William Hurt era hoje um dos maiores astros do cinema. Mas não. Ele se contenta em ser "apenas" um dos grandes atorzaços que têm por aí. O neo-noir Corpos Ardentes, filmão que pinga suor como poucos, é prova disso. Junto a Hurt e Kathleen Turner, é grande o prazer em ver Mickey "Marv" Rourke na flor da idade, e recitando umas falas tarantinescas em pleno 1981. Lawrence Kasdan era "o" roteirista mesmo. Nota 8,5.

Me diverti às vera com Os Produtores - mesmo com este meu, admito, pé atrás com remakes. Se o clássico de Mel Brooks era tão redondinho, pra quê dar a ele uma nova roupagem? Apresentá-lo às novas platéias? O DVD tá aí pra isso, não?! O legal é que todo mundo só pode ter ficado em estado de delírio durante as filmagens desta adaptação de Primavera para Hitler. Nathan Lane e o Ferris Broderick fazem uma parceria gozadíssima, e o elenco de apoio (tirando Uma Thurman e Will Ferrell, quase todo desconhecido) não fica atrás. Os números musicais não são o bicho; ao final quem reina é a metralhadora de gags deliciosamente idiotas. Por que o Casseta não é mais assim? Nota 7,5.

A simples presença de seres urbanos é capaz de provocar um revertério no cotidiano do interior, uma vez que alguns moradores, pacíficos e satisfeitos com suas vidinhas jecas, começam a se sentir inferiores em comparação aos visitantes. Eu, que moro em Rio Grande, nos confins do RS, já passei por situação semelhante. O jeitão provinciano comanda por aqui. As dificuldades impostas pelo baixo orçamento são visíveis, porém Retrato de Família (Junebug) é daqueles pequenos filmes com identidade própria e um coração que bate forte. Bom dizer que o seu charme é visível somente aos olhos dos espectadores mais pacientes; nada é resolvido com facilidade, porque a vida, minha gente, não é nada fácil. Destaque para as canções da trilha, todas assinadas pelo legalzão Yo La Tengo. Nota 7.

Vez que outra aparece um Profissionais do Crime por aqui. Gozado que Fulltime Killer virou cult na terra do sol nascente, onde todo mundo adora uma pancadaria coreografada. Não à toa, a produção estrelada pelo big star Andy Lau arrecadou não sei quantos milhões no Japão. Os brasileiros ainda preferem o bom e velho estilo hollywoodiano de se contar uma história de ação (leia-se 10 explosões + 5 tiroteios + 0 roteiro), e deve ser por isso que a gente nunca tinha ouvido falar desse filhotinho de John Woo. Amantes do cinema de referências têm aqui um compromisso inadiável: na mesma panela, são cozinhados Caçadores de Emoção, O Profissional de Luc Besson, quadrinhos, música pop e muito mais temperos. É por isso que eu digo... viva o DVD. Nota 7.

Tem uma cena em Six Feet Under, acho que na quarta temporada, em que os personagens estão curtindo Terra de Ninguém (1973) num desses madrugadões da TV. Que vontade me deu! Quando o achei num site de compras, comprei-o-o sem hesitar (thanks, Pimpidrigo). Tinha certeza que uma pérola me esperava. A maioria acha Malick pedante, pseudo-filósofo ou, pura e simplesmente, um "chato"; outros, como este que vos fala, conseguem admirar a beleza inusitada que ele impõe a barbaridades como casais de jovens assassinos, índios escalpelando ingleses com muita vontade e soldados ingênuos explodindo granadas dentro do bolso. Digo e repito: Terrence Malick é um profundo conhecedor da alma humana, e o cinema foi inventado para cineastas como ele. Nota 8,5.

Quem vê Kevin Spacey e Morgan Freeman posando de machões no cartaz de Edison - Poder e Corrupção garante que está prestes a assistir a um grande filme, com personagens complexos, cheios de traições e segredos. Nenhum dos astros, entretanto, é suficiente para compensar outra figura presente não apenas no cartaz original como em todo o filme: o pseudo-cantor Justin Timberlake. Até podia render um thriller policial bacaninha, não fosse a enfadonha presença do ex-Britney Spears e do roteiro, carente de continuidade e repleto de situações mal desenvolvidas. Saca só a viagem: um reporterzinho iniciante decide, da noite para o dia, acabar com a corrupção policial de sua cidade. Tudo isso em busca de nada menos que... o Pulitzer! Faz-me rir. Nota 3,5.

Produção da Globo Filmes é isso aí: quando o enredo ameaça sair dos trilhos, o negócio é ficar de olho nas participações de luxo: "ih, ó lá o Bial"; "bah, o careca marido da Marta da novela das oito!"; "o zolhudo do Zorra Total!"; ou "putz, mas o Francisco Milani não morreu?". Irma Vap - O Retorno, inspirado na bem-sucedida peça de mesmo nome, é bem isso. Um amontoado de astros e estrelas globais (ainda tem Arlete Salles, Marieta Severo, Diogo Vilella, Paulo Betti, Louise Cardoso...) derramando um punhado de frases feitas de dar dó, e que só servem para cumprir contratos. Nanini e Latorraca, competentes como sempre, arrancam suas gargalhadas; o problema é que a Carla Camurati parece um rinoceronte africano atrás das câmeras. O produto final acaba sendo um tele-teatro projetado em 35mm, um interminável teste para olhos, ouvidos e saúde mental. O artista brasileiro precisa, com urgência, saber diferenciar teatro, cinema e TV. Chega de Frankensteins! Nota 5.

Rodado no mesmo ano da oscarizada estréia Rebecca, Correspondente Estrangeiro (1940) foi o segundo trabalho de Hitchcock em Hollywood. O gorduchão não existia mesmo. Sem nos deixar respirar, o longa mostra um jornalista americano envolvido numa rede de espionagem na Europa, em pleno estouro da II Guerra, e é um claro chamado do cineasta pra que os EUA entrassem no conflito. O apelo marqueteiro é compensado pelas ótimas interpretações e o talento do cineasta. Tem um punhado de cenas antológicas, entre elas o assassinato de Van Meer (essa aí da foto), a eletrizante fuga do repórter no parapeito dos prédios e os 15 minutos finais, onde efeitos especiais surpreendentemente realistas reconstituem a queda de um avião (Roland Emmerich nenhum faria aquilo há 65 anos). Nota 8.

Provando que para ser 007 tem que ser no mínimo um bom ator, Pierce Brosnan deita e rola em O Matador. Sua indicação ao Globo de Ouro valeu mesmo a pena. O filme em si me lembrou muito Matador em Conflito, com John Cusack, A Máfia no Divã e tantos outros em que assassinos têm dificuldade de conviver com gente "normal". Mas a vontade em filmar da direção faz de The Matador um programa dos bons - e com identidade própria. Nota 7,5.

No fone: Nine Black Alps - "Unsatisfied"

8/04/2006

A primeira vez

Carros foi a primeira sessão de cinema de Gustavo Caldeira Halal, uma minúscula criaturinha de 31 meses de idade. Corujices e álbuns de figurinhas à parte, a escolha não podia ser mais acertada - até porque tamos carecas de saber que a Pixar não faz filme ruim. O estúdio, depois de animar brinquedos, insetos, humanos e monstros gente boa, agora investe no objeto mais interligado ao homem industrializado. Assim, desfilam pela telona possantes máquinas de stock-car, caminhões de bombeiro engraçadíssimos, 'banheiras' antigonas, Porsches sensualíssimas... O enredo não precisava daquele efeitinho moral perto da conclusão, né, mas Pixar é sempre Pixar. São muitas as sacadas geniais, a começar por Paul Newman, aqui emprestando seu vozeirão a um carrinho aposentado. E quem diria que o melhor ator coadjuvante do ano seria um caminhão-guincho? Seu Gugu dormiu em cima dum balde de pipocas, para depois acordar e conferir os 15 minutos finais no meu colo. Pelo visto, adorou o esquema. P.S.: Só não levo na Xuxa. Nota 8.

Caraca! Como valeu essa angústia de dois ou três anos pelo terror coreano A Tale of Two Sisters!! Recenzinha lançado em disquinho digital, o verdadeiramente arrepiante e criativo Medo (eita, sr. tradutor!) mostra duas irmãs que acabam de sair do amarelinho e se mudam para a casa do pai & madrasta. As duas são inseparáveis, o pai ausente, e a madrasta, má como o inferno, vive perseguindo a irmã mais nova. A mais velha não suporta a situação, e o tempo fecha seguido entre ela e os coroas. Eis que fatos esquisitos começam a acontecer no casarão, e aí dá pra dizer: há tempos não se via uma fita de fantasmas e suspense psicológico tããããão paulada. Ringu, Ju-On, The Eye, Espíritos? Nenhum oriental mal-assombrado é páreo para este. Nasce um clássico, com visual inacreditável, sustos de verdade, personagens complexos, revelações mil e, o melhor de tudo: encagaçante do início ao fim. Aproveite enquanto o remake não vem. Nota 9.

Vez que outra, faço visitas àquela locadora que não vejo há uma era. É nessas horas que me deparo com antigüidades legais. Outras, nem tanto. Só fui ver Dublê de Corpo (1984) agorinha, depois de velho. Sou um puta fã de Carrie, Um Tiro na Noite, Vestida para Matar, Os Intocáveis e outros do De Palma... Mas esse aí envelheceu um bocado, e, vão me desculpar, não deu pra engolir todas aquelas reviravoltas mirabolantes. Já a Melanie Griffith... Nota 5,5.

O filhote da Globo Filmes A Máquina é aquele tudo-ao-mesmo-tempo-agora já visto em, para ficarmos em dois exemplos recentes, Domino e Moulin Rouge (OK, gosto deste último). Quer ser moderninho mas não passa de um afetadíssimo samba do crioulo doido, fazendo dodói na cabeça do vivente com sua mescla de videoclipe demodé, Teatro do Bebé, programa de auditório a la João Kleber, duvidosos efeitos artesanais e a rebimboca da parafuseta. Pô, e eu amo tanto Lázaro Ramos, Wagner Moura, Paulo Autran, Walter Carvalho, Chico Buarque... Era tanta gente boa envolvida que a decepção com a fita doeu ainda mais. Foda mesmo é a (falta de) direção. João Falcão, filho, coragem não te falta. Mas como diria o nosso poeta Frank Jorge, um pouco de talento não faz mal a ninguém. Nota 5,5.

Vi Nove Rainhas pela terceira vez. Novamente dublado, no SBT. R.I.P., caro Bielinsky. E... gracias. Nota 9.

Pelas mãos do mesmo Stephen Wooley do legalzinho Backbeat, Stoned - A História Secreta dos Rolling Stones parece ser o mais recente capítulo da maior batalha do rock (Beatles x Stones, oras). A atração-mor fica com a reconstituição de época, em que brilham cenários, figurinos e penteados muito freaks. A velha trinca sexo, drogas e rock'n'roll é respeitada - mesmo que a trilha não tenha nada de Stones e as drogas sejam mostradas meio de canto. Já o sexo, ainda que mole e balançando, vem em grandes quantidades; nunca se viu tanto nu frontal numa produção (relativamente) mainstream. Nota 6,5.

De vez em quando pego umas fotos no Adoro Cinema. Sitezinho bem aceitável, traz também cartazes, fichas técnicas, notas de produção e cotação dos leitores. Pois não é que na seção dedicada a A Casa dos 1000 Corpos há só duas notas: um zero e... um 10! Nada poderia ser mais próximo da verdade. Ame ou odeie, Rob Zombie respira ares trashes como poucos. A seqüência Rejeitados pelo Diabo é muito mais bem-acabada e talicoisa, só não traz a alma tão podre quanto a desse primeiro. Tem uma ceninha ao som de "Now I Wanna Sniff Some Glue", dos Ramones, que não tá pra brincadeira. Nota 7.

Estranhamente, o novo Bergman não chegou ao Brasil e vai direto para DVD pela mesma Sony que preferiu não exibi-lo na tela grande. Saraband é fantástico. Os extras são um es-pe-tá-cu-lo à parte, mostrando o processo criativo de um dos pouquíssimos cineastas mitológicos ainda vivos. Que outro filme tem personagens centrais à beira dos 90 anos? E PELADOS? Nota 8.

Entre um Garfield 2 e um O Filho do Máskara, Bob Hoskins se dá ao respeito de participar de coisas legais como Sra. Henderson Apresenta. Excelente ator, esse. Ao lado de uma antagonista do porte de Judi Dench, o homem brilha como nunca. Nota 7,5.

Alta Tensão é o nome de dois filmes. Um deles, com Mel Gibson e Goldie Hawn, de vez em quando estampa a Sessão da Tarde e é uma aventurinha bem leve, descontraída, tipo alguns sopapos e as perseguições de sempre. Mas Alta Tensão é também como foi batizado por aqui Haute Tension, estréia do diretor Alexandre Aja (do novo The Hills Have Eyes) e um festival de grosserias em forma de fita de horror francesa. Ao longo de 91 minutos, somos submetidos a decapitações no melhor estilo Irreversível (sem cortes na edição), motosserras arrebentando caixas torácicas, crianças e cachorros em execução sumária, pedaços de pau enrolados em arame farpado fazendo bonito e a participação especial de uma navalha, capaz de te tirar a vontade de ir ao barbeiro este mês. Tudo é filmado com alto grau de terror, violência e morte. Liberdade criativa é isso aí; pobrezinhos daqueles que ainda se espantam com coisas pretensamente brutas como Jogos Mortais. O já citado Mel "torturador de Jesus" Gibson que deve ter se arregalado com tanto sangue. Nota 7,5.

Numa de suas melhores músicas, o Primal Scream vocifera "kill all hippies!". Eu não iria tão longe a ponto de exterminá-los da face da terra, mas não há quem não compreenda o porquê da letra; esses chatonildos são mesmo a praga da globalização-retrô. Mesmo assim, confesso que foi uma experiência sensorial conferir aquele final de Hair, ao som de "Let the Sunshine In". Cá entre nós, qualquer forma de arte que ridicularize militares e dê força para a desobediência civil merece aplausos. Milos Forman é um dos meus deuses do cinema. Só não venham me forçar a ficar viajando nessa onda hippie-fashion. Nota 8,5.

No fone: The Beatles - "Wait"