8/04/2006

A primeira vez

Carros foi a primeira sessão de cinema de Gustavo Caldeira Halal, uma minúscula criaturinha de 31 meses de idade. Corujices e álbuns de figurinhas à parte, a escolha não podia ser mais acertada - até porque tamos carecas de saber que a Pixar não faz filme ruim. O estúdio, depois de animar brinquedos, insetos, humanos e monstros gente boa, agora investe no objeto mais interligado ao homem industrializado. Assim, desfilam pela telona possantes máquinas de stock-car, caminhões de bombeiro engraçadíssimos, 'banheiras' antigonas, Porsches sensualíssimas... O enredo não precisava daquele efeitinho moral perto da conclusão, né, mas Pixar é sempre Pixar. São muitas as sacadas geniais, a começar por Paul Newman, aqui emprestando seu vozeirão a um carrinho aposentado. E quem diria que o melhor ator coadjuvante do ano seria um caminhão-guincho? Seu Gugu dormiu em cima dum balde de pipocas, para depois acordar e conferir os 15 minutos finais no meu colo. Pelo visto, adorou o esquema. P.S.: Só não levo na Xuxa. Nota 8.

Caraca! Como valeu essa angústia de dois ou três anos pelo terror coreano A Tale of Two Sisters!! Recenzinha lançado em disquinho digital, o verdadeiramente arrepiante e criativo Medo (eita, sr. tradutor!) mostra duas irmãs que acabam de sair do amarelinho e se mudam para a casa do pai & madrasta. As duas são inseparáveis, o pai ausente, e a madrasta, má como o inferno, vive perseguindo a irmã mais nova. A mais velha não suporta a situação, e o tempo fecha seguido entre ela e os coroas. Eis que fatos esquisitos começam a acontecer no casarão, e aí dá pra dizer: há tempos não se via uma fita de fantasmas e suspense psicológico tããããão paulada. Ringu, Ju-On, The Eye, Espíritos? Nenhum oriental mal-assombrado é páreo para este. Nasce um clássico, com visual inacreditável, sustos de verdade, personagens complexos, revelações mil e, o melhor de tudo: encagaçante do início ao fim. Aproveite enquanto o remake não vem. Nota 9.

Vez que outra, faço visitas àquela locadora que não vejo há uma era. É nessas horas que me deparo com antigüidades legais. Outras, nem tanto. Só fui ver Dublê de Corpo (1984) agorinha, depois de velho. Sou um puta fã de Carrie, Um Tiro na Noite, Vestida para Matar, Os Intocáveis e outros do De Palma... Mas esse aí envelheceu um bocado, e, vão me desculpar, não deu pra engolir todas aquelas reviravoltas mirabolantes. Já a Melanie Griffith... Nota 5,5.

O filhote da Globo Filmes A Máquina é aquele tudo-ao-mesmo-tempo-agora já visto em, para ficarmos em dois exemplos recentes, Domino e Moulin Rouge (OK, gosto deste último). Quer ser moderninho mas não passa de um afetadíssimo samba do crioulo doido, fazendo dodói na cabeça do vivente com sua mescla de videoclipe demodé, Teatro do Bebé, programa de auditório a la João Kleber, duvidosos efeitos artesanais e a rebimboca da parafuseta. Pô, e eu amo tanto Lázaro Ramos, Wagner Moura, Paulo Autran, Walter Carvalho, Chico Buarque... Era tanta gente boa envolvida que a decepção com a fita doeu ainda mais. Foda mesmo é a (falta de) direção. João Falcão, filho, coragem não te falta. Mas como diria o nosso poeta Frank Jorge, um pouco de talento não faz mal a ninguém. Nota 5,5.

Vi Nove Rainhas pela terceira vez. Novamente dublado, no SBT. R.I.P., caro Bielinsky. E... gracias. Nota 9.

Pelas mãos do mesmo Stephen Wooley do legalzinho Backbeat, Stoned - A História Secreta dos Rolling Stones parece ser o mais recente capítulo da maior batalha do rock (Beatles x Stones, oras). A atração-mor fica com a reconstituição de época, em que brilham cenários, figurinos e penteados muito freaks. A velha trinca sexo, drogas e rock'n'roll é respeitada - mesmo que a trilha não tenha nada de Stones e as drogas sejam mostradas meio de canto. Já o sexo, ainda que mole e balançando, vem em grandes quantidades; nunca se viu tanto nu frontal numa produção (relativamente) mainstream. Nota 6,5.

De vez em quando pego umas fotos no Adoro Cinema. Sitezinho bem aceitável, traz também cartazes, fichas técnicas, notas de produção e cotação dos leitores. Pois não é que na seção dedicada a A Casa dos 1000 Corpos há só duas notas: um zero e... um 10! Nada poderia ser mais próximo da verdade. Ame ou odeie, Rob Zombie respira ares trashes como poucos. A seqüência Rejeitados pelo Diabo é muito mais bem-acabada e talicoisa, só não traz a alma tão podre quanto a desse primeiro. Tem uma ceninha ao som de "Now I Wanna Sniff Some Glue", dos Ramones, que não tá pra brincadeira. Nota 7.

Estranhamente, o novo Bergman não chegou ao Brasil e vai direto para DVD pela mesma Sony que preferiu não exibi-lo na tela grande. Saraband é fantástico. Os extras são um es-pe-tá-cu-lo à parte, mostrando o processo criativo de um dos pouquíssimos cineastas mitológicos ainda vivos. Que outro filme tem personagens centrais à beira dos 90 anos? E PELADOS? Nota 8.

Entre um Garfield 2 e um O Filho do Máskara, Bob Hoskins se dá ao respeito de participar de coisas legais como Sra. Henderson Apresenta. Excelente ator, esse. Ao lado de uma antagonista do porte de Judi Dench, o homem brilha como nunca. Nota 7,5.

Alta Tensão é o nome de dois filmes. Um deles, com Mel Gibson e Goldie Hawn, de vez em quando estampa a Sessão da Tarde e é uma aventurinha bem leve, descontraída, tipo alguns sopapos e as perseguições de sempre. Mas Alta Tensão é também como foi batizado por aqui Haute Tension, estréia do diretor Alexandre Aja (do novo The Hills Have Eyes) e um festival de grosserias em forma de fita de horror francesa. Ao longo de 91 minutos, somos submetidos a decapitações no melhor estilo Irreversível (sem cortes na edição), motosserras arrebentando caixas torácicas, crianças e cachorros em execução sumária, pedaços de pau enrolados em arame farpado fazendo bonito e a participação especial de uma navalha, capaz de te tirar a vontade de ir ao barbeiro este mês. Tudo é filmado com alto grau de terror, violência e morte. Liberdade criativa é isso aí; pobrezinhos daqueles que ainda se espantam com coisas pretensamente brutas como Jogos Mortais. O já citado Mel "torturador de Jesus" Gibson que deve ter se arregalado com tanto sangue. Nota 7,5.

Numa de suas melhores músicas, o Primal Scream vocifera "kill all hippies!". Eu não iria tão longe a ponto de exterminá-los da face da terra, mas não há quem não compreenda o porquê da letra; esses chatonildos são mesmo a praga da globalização-retrô. Mesmo assim, confesso que foi uma experiência sensorial conferir aquele final de Hair, ao som de "Let the Sunshine In". Cá entre nós, qualquer forma de arte que ridicularize militares e dê força para a desobediência civil merece aplausos. Milos Forman é um dos meus deuses do cinema. Só não venham me forçar a ficar viajando nessa onda hippie-fashion. Nota 8,5.

No fone: The Beatles - "Wait"

2 comentários:

MOVIEMAD disse...

q safrinha hein?!

Bruna disse...

Hala, você é mestre mesmo.
Suas críticas são envolventes e fundamentadas.. adorei o blog.
Cheguei aqui pelo link que tem no da Penkala..
O blog é muito bem, feito, organizado.
Posso adicionar você à lista de links que eu tenho?
Slds,