11/28/2006

Postzão - Parte I

Queridões, eis um primeiro balanço de minhas vacaciones:

Sua vida anda meio sem-graça? Não agüenta mais a mulher enchendo o saco, o chefe besta torrando a paciência, o time que sempre abre as pernas na reta final do campeonato? Pois seus problemas acabaram! Pegue ***alerta! tradução afasta incautos! alerta!*** Como Enlouquecer seu Chefe (1999) e transborde de felicidade. É nada mais, nada menos que a estréia de Mike Judge em celulóide, e olha, descrever o que o pai de Beavis & Butthead fez aqui não é fácil.
O ponto de partida é de uma Sessão da Tarde tipo Quero Ser Grande ou O Mentiroso: rapaz que trabalha numa firma de informática é vítima de um feitiço que o impede de se estressar. Ao contrário do filme do Jim Carrey, que se concentrava na relação pai-filho, o esquema aqui é espinafrar o sistema trabalhista. Logo que começa a falar umas verdades para seus empregadores sem se ligar, o maluco estranhamente cai nas graças deles com sua franqueza. O ritmo das piadas que seguem é insano. O estilo de humor atende a todos os gostos: tem sutileza, humor negro, sarcasmo, humor físico, incorreção política... Impossível não gargalhar, e olha que eu exijo muito de uma comédia. O que são aqueles diálogos, Jesus-Maria-e-José? Certo que ninguém da Academia conferiu, senão era Oscar de roteiro na certa.
Mais: tudo isso protagonizado por um time de atores que parece organizar um churras toda sexta à noite, tamanha a empatia entre eles. Office Space gruda na memória porque todos, eu disse todos os personagens são gozados e interessantes. O vizinho do protagonista, por exemplo, é um pedreiro cabeludo, preguiçoso, taradão e com voz de negão blueseiro, que ouve tudo por trás da parede - e faz questão de comunicar sempre que surge uma gostosa de biquíni na TV. Outras figurinhas são um árabe com tendências terroristas (mas baita cagão) e um hacker nerdzaço, daqueles que sabem tudo que é letra de rap, mas que fecham o vidro do carro sempre que pinta neguinho por perto. Nem a gostosa da Jennifer Aniston consegue embatumar o bolo, até porque aqui ela realiza o sonho de todos nós: esfregar o dedo médio na cara do chefe. Vi-o há quase dois meses, e desde então o filme só cresceu na minha cachola. Pode arriscar, que eu agarântio! Nota 9.

Legal que a carreira de Uma Thurman decolou depois de Kill Bill. Torço por essa guria. Não fosse Tarantino, a moça dos dedos compridos jamais conseguiria trampos de evidência em Terapia do Amor (2005) e Minha Super Ex-Namorada. Quer dizer então que tua tarefa agora é ressuscitar o Kurt Russell, hein, Quentin? Nota 6,5.

Fernando Meirelles anunciou que vai adaptar Saramago. Se depender desse currículo de ouro - Domésticas, Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel (2005) - vêm maravilhas por aí. Nota 9.

Quase nunca vou na prateleira do Romance, até porque os energúmenos lá da locadora acomodam ali Destino Insólito, Showbar e por aí vai. Quando vi Verão de 42 (1972), então, dei uma chance. Filmezinho bonito, rapaz. Nota 8.

Tenho simpatia por quase todos esses que fracassam na estréia e fazem sucesso bem depois, com o boca-a-boca. O Homem de Palha (1974) é um deles. Christopher Lee foi o Drácula em pessoa e mata a pau até hoje, mas aqui periga ter o seu grande papel. Falei que não tô a fim de ver a refilmagem? Nota 7,5.

Meio chato Orgulho e Preconceito (2005). Desta vez não teve Ang Lee nem Emma Thompson pra salvar, né, Mrs. Austen? Nota 6,5.

Agiota desonesto cria que nem cachorro, desde pequeno e de coleira e tudo, um japa no porão. Acreditem ou não, esta é a história de Cão de Briga (2005). Óbvio que não foi um plot desses que me atraiu, nem mesmo Jet Li, que sempre diverte. O fato é que o diretor é um tal Louis Leterrier... do novo Hulk! Cuida bem do verdão, cara. Tô nos teus bico! Nota 6,5.

O ano vai acabando e nos faz tirar algumas conclusões. Uma delas é o altamente bem-vindo revival do slash terror, por mãos de trintões que cresceram vendo muita VHS mofada em casa. Seres Rastejantes (2005) é o tipo de filme que eu teria orgulho em dizer que fiz. Quem roteiriza a belezinha é James Gunn, do muito-legal-mesmo Madrugada dos Mortos. O cara resolveu assumir a direção e coalha de referências esse Slither; todos os personagens têm nome ou sobrenome de lendas do gênero (Hooper, Carpenter, Romero) e muita cena é chupada de material alheio (Noite dos Arrepios, Alien, A Noite dos Mortos-Vivos). Outro presentão é a presença de Michael Rooker, um dos melhores atores B ever (quando é que chega Henry: Retrato de um Assassino em DVD?), numa atuação que vai do emotivo ao gore em questão de segundos. Diversão garantida, ou sua locação de volta. Nota 7,5.

Lá pela meia-hora de Despertar dos Mortos (1978), George Romero parece acordar pra vida e dizer “bem, vou fazer um filmaço!”. A partir daí o nível de sanguinolência, que já não era brincadeira, atinge níveis inimagináveis, com muitos closes de músculos e vísceras sendo arrancadas a dentadas e unhaços. Punk como a gente gosta. Amigo meu lá do jornal, do alto de seus 40 e poucos anos, veio dizer que na época que viu no cinema a galera ficou semanas sem comer carne... A trilha e os planos elegantes são coisa de um Kubrick ou Bergman (não, eu não estou exagerando) e os dublês também merecem aplausos (as crianças mortas-vivas convencem na hora que o pau come, um zumbi tem a tampa da cabeça arrancada pela ação de uma hélice de helicóptero, outro pobre-coitado leva um safanão e dá de cara numa moto... em movimento). Um sangrento superespetáculo. Nota 9.

Me criei vendo O Enigma de Outro Mundo (1982) na Sessão da Tarde, mas minhas poucas memórias dele eram muito gelo e a cabeça andando com perninhas de aranha. Como é que passavam todas aquelas nojeiras nesse horário? Nota 8,5.

Outro cráááássico da Sessão da Tarde foi Viagem Fantástica (1966). A cena final, em que os miniaturizados escapam de dentro do corpo através da lágrima do pobre-coitado, não dá pra esquecer. Nota 8.

Sabia que O Homem dos Olhos de Raio-X (1967) tinha Ray Milland no elenco e tal, só não lembrava que era do Roger Corman, o bisavô dos cineastas independentes. Só ele mesmo pra filmar aquele final incômodo e muito trash. Nota 8.

A grande atração de O Corvo (1963), tirando o embate Boris Karloff x Vincent Price, é um Jack Nicholson em vestes de soldado imperial e com cabelo esvoaçante. Mais um clássico de Corman. Nota 8.

Antes de virar o grande astro de ação dos sixties, Steve McQueen estrelou A Bolha (1958). Um canastrão, diga-se. O filme nasceu terror e virou comédia, e diverte por isso. Nota 7.

Ainda inédito em DVD e uma missão impossível para achar em fita de vídeo, Quadrilha de Sádicos (1977) perdeu um pouco do impacto original. Vi piratão mesmo, sem legendas e pela primeiríssima vez na vida. Posso estar falando bobagem, mas achei o remake melhor, mais tenso e bem escrito. Mesmo assim, Wes Craven em estado bruto é melhor que toda essa merda que tá aí. Nota 8.

Pânico na Montanha (2004) é mais um média-metragem da série Mestres do Terror, desta vez dirigido por um tal Don Coscarelli. Mestre ele não é. Nota 5,5.

Já Takashi Miike é sim, um mestre. Marcas do Terror (2004), sua contribuição para a série da HBO, teve a exibição vetada na última hora pela emissora americana. Acharam muito pesado pros padrões deles. Queriam o quê? Algo insosso, inodoro, indolor? Que contratassem a equipe de Jogos Mortais, pois! Imprint é o horror em sua forma mais pura e poderosa, com direito a uma cena de tortura niilista pra caralho, marcante, hipercinética. Por que é tão difícil que a filmografia desse cara chegue até nós? Nota 8.

O Novo Mundo (2005) é um dos melhores filmes do ano. Ponto. Nota 8,5.

Quem achou que Spike Lee fosse abandonar seus comentários sociais para dedicar-se à ação non-stop em O Plano Perfeito (2005), enganou-se. Uma cena resume bem isso, quando um refém sikh, de barba e turbante, ganha umas porradas da polícia - ao ser confundido com um árabe, ele desperta o receio de um ataque terrorista. É o toque pessoal de alguém que transforma o que poderia ser mais um thriller inócuo numa obra espirituosa. Nota 8.

Loiríssima, ameaçadora e quase sempre pelada em cena, Sharon Stone deve ter quebrado o recorde mundial em homenagens no banheiro depois de Instinto Selvagem. Agora, quase 15 anos se passaram e em IS2 (2006) Sharon já não tá assim-assim. Continua charmosa, mas o corpo é de quem pegou praia, botox e bisturi demais. Suas caras e bocas ultrapassam a fronteira do ridículo; parece atuar sempre à beira de uma gozada. Ainda trocaram Michael Douglas, um cara que poderia comer uma árvore (no mau sentido), praticamente o Zé Mayer deles, pelo inexpressivo David Morrissey. E se cinemão com cenas picantes virou clichê, nem isso o filme tem, com muito roteiro para pouco sexo. Os ares são de um Cine Privê de luxo, para ver apertando o forward no controle. Nota 5.

Não faço muita questão de me envolver com esses mistérios de Lost. Sou nerd o bastante para partir em busca de outros tipos de cultura inútil, algo que não me faça entrar em grupos de discussão com uma cambada de viciados em chips e cherry coke. A 1ª Temporada (2004) é legal, com todos seus altos e baixos. Vou continuar acompanhando, mas que é muita punheta, isso é! Nota 8.

Ultravioleta (2005). Aaaaaaaargh! Meus olhos, não consigo enxergar! Nota 3.

Atom Egoyan não exibe em Verdade Nua (2005) metade do talento mostrado em O Doce Amanhã. Será ele um enganador? Só o tempo dirá. Por outro lado... Kevin Bacon, sempre bem. Colin Firth, boas caras de tarado. Alison Lohman, apetitosa (já tem 18?). Nota 6.

Adorei A Lula e a Baleia (2005). Roteiro saboroso, dupla central despida de estrelismos (Laura Linney safaaaada, Jeff Daniels em luminoso momento Bill Murray), trilha bizarra. Um dos poucos filhotinhos de Wes Anderson que deram certo. Filmão. Nota 8,5.

Bonecas Russas (2005) dá seqüência às aventuras de O Albergue Espanhol. É cinema europeu jovem, sem grandes afetações ou aspirações. O original já não era grande coisa. Veja, se o tempo for seu amigo. Nota 7.

Só o fato de ambientar uma história de amor nos escombros da bomba atômica já daria a Hiroshima Mon Amour (1959) todo o nosso respeito. E o Resnais ainda vai lá e faz uma obra fodida de boa, cheia de símbolos e idas e vindas no tempo. Como muitos filmes de arte, jamais será inteiramente apreciado e entendido. Não consigo imaginar o público de Páginas da Vida assistindo isso. "Sensorial" é a palavra. E que fim deu Emanuelle Riva, hein? Grande atriz, a moça. Nota 8,5.

Michael Mann, um grande diretor à procura de um bom roteiro. Miami Vice (2006) entretém, empolga e ao mesmo tempo desaponta por não trazer mais sustância para nós, fãs de Coppola e Scorsese. Nota 7,5.

Vôo United 93 (2006) é trepidante do início ao fim. E que fim! O grande feito de Paul Greengrass foi mostrar que o heroísmo do vôo foi simplesmente entrar em pânico e tentar sobreviver. Ele põe a platéia no meio de toda aquela algazarra no avião e a faz enxergar a morte bem de pertinho. O mais eficaz simulador de vôo da história. Sabe quando a gente sai do cinema com as pernas bambas? Pois é. Nota 8,5.

Bem mais apelativo, As Torres Gêmeas (2006) tem coisas como Nicolas Cage gritando "rrrruuuuuuuunnnnnnn...!" em câmera lenta, marines obstinados vindo de longe para salvar os bombeiros, crianças e esposas se esvaindo em lágrimas e por aí vai. São cacoetes Rambo-Michael Bay que não combinam com o tema delicado. E menos ainda depois de Team America, né, seu Stone? Nota 7.

Desculpaí a heresia... mas tem dias que a gente não devia ir ao cinema. Entrei na Casa de Cultura com a certeza absoluta de que ia amar Cinema, Aspirinas e Urubus (2005). Não foi isso o que a noitada anterior permitiu. Pronto, já pode me bater. Nota 7,5.

Abismo do Medo (2005) vai me obrigar a seguir cada passo do diretor Neil Marshall (que já tinha feito bonito em Dog Soldiers). Terrorzinho fodido! Nota 8,5.

Raras vezes se viu um filme que dividisse tanto assim as opiniões quanto Dália Negra (2006). É um Brian De Palma exagerado como nunca. Com pelo menos duas cenas acima de qualquer crítica: a descoberta do cadáver e a morte de um dos personagens centrais na escadaria. De tirar o fôlego. Nota 8.

Todo Mundo Quase Morto (2004) tem humor e inteligência por todos os lados, personagens bem compostos, roteiro impecável e um desfecho capaz de levar o público ao delírio. É muito difícil exigir mais de um filme do que o que encontramos aqui. Mande uma banana pro título imbecil que Shaun of the Dead ganhou no Brasil, corra atrás e tenha aquele orgasmo múltiplo que você sempre sonhou. Ele é assim de bom. Comprei e vou ver todo ano. Quer, eu te empresto. Nota 9,5.

Míseros R$ 9,90 por Ghost World (2001) numa banca de revistas no centrão de Porto Alegre. Sorrindo até agora. Nota 8.

O ritmo de piadas de Friends é tão insano que me deixa extenuado. Estou certo que deixei de pescar algumas piadas ótimas da 4ª Temporada, porque tem uns episódios que fundem a cuca de tanta graça. Será seqüela? Nota 8,5.

Dá raiva ver subprodutos sem alma como Gatão de Meia-Idade (2005) ganhando espaço de luxo num circuito repleto de produções brasileiras interessantes que permanecem sem distribuidor, e que certamente teriam alcance igual ou bem maior que lixos como este. O enredo é baseado nos quadrinhos de Miguel Paiva e podia render algo divertido mas, oh Deus, não é isso o que a gente vê na tela. Alexandre Borges se esforça pra viver Cláudio, um quarentão solteiro e galinha que começa a sentir o peso da idade. Ri-se justamente da pior coisa que pode acontecer a uma comédia: a falta de graça. As situações são dignas daquelas pornochanchadas do Canal Brasil, com direito a nudez gratuita, uma trilha sonora insuportável e diálogos de uma patetice só. O pior filme de 2006 já tem nome - isso enquanto não sai o novo da Xuxa. Nota 2.

O Mestre da Guilhotina Voadora (1975) é daqueles que te fazem urrar de prazer de tão excêntricos. Podia ser rebatizado para A Batalha dos Inválidos ou algo do tipo... em que outro filme você vai ver o herói sem um braço saindo na porrada com um vilão que é cego? O roteiro praticamente não importa, cedendo espaço para as lutas absurdas. É gente caminhando pelas paredes, se equilibrando em pontas de espadas e espichando as mãos como o Dhalsim do game Street Fighter II. E foi daqui que Tarantino tirou a cena de Gogo e sua arma mortal, numa das cenas mais afudê de Kill Bill. Podreira das boas. Nota 8,5.

No fone: Grizzly Bear - "Easier"

11/03/2006

Mais cinco minutos, por favor

...Só deixa eu me recuperar das férias. Esta semana sai.

No fone: The Killers - "When You Were Young"

9/18/2006

Deformidades, goonies, kikitos, lagartos, gorilas e um argentino


Uma família em férias, cujo motor home tem os quatro pneus furados no meio do deserto, fica à mercê de um bizarro grupo de humanos deformados, gerados a partir dos testes nucleares que o governo realizou na área.
Incrível que, partindo da mais esquemática das premissas, o remake de Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977; conseguiram cagar com um baita título original duas vezes) ergue fácil a taça de terrorzão nº 1 da temporada. Viagem Maldita é um feito. Não tem a vontade de ser inteligente daquele insosso cocozinho infantil chamado Jogos Mortais, nem a ausência de medo que comprometeu em parte O Albergue. É uma cacetada só, uma catarse cinematográfica comandada com um gás impressionante pelo ainda novato Alexandre Aja (do igualmente fiadaputa Alta Tensão, já comentado aqui). Desde que o vi, confesso que passei a reforçar melhor as portas e janelas lá de casa.
O trabalho da direção é mesmo o grande chamariz. Aja molda seus personagens com carinho, e cada bate-papo não é mero pretexto para levar alguém para a cama (ou sofá, ou mato, ou lago) como num Jason da vida. Todos eles discutem seus problemas, reclamam do pneu furado, falam de política, sofrem com calor, fome e sede, beijam a testa dos filhos, exatamente como nós do lado de cá. O negócio é punk porque, segundo a cartilha tradicional do gênero, sempre os primeiros a morrer são os chatos e egoístas. Aqui, não. Assim, quando eles finalmente sofrem o primeiro ataque (na seqüência mais insuportavelmente apavorante) o espectador sente na pele cada mutilação, cada grito de desespero, cada esguicho de sangue. E ainda botaram um nenê ali no meio daquelas barbaridades todas. Um nenê, cara... recém-nascido... putz.
E os cagaços, então? Vou ao cinema quase toda semana desde os meus 15, 16 anos e confesso que nunca, NUNCA tinha presenciado tanta gente pular da cadeira. Alguns sustinhos são mamata, outros nem tanto. Aja é daqueles que fazem de tudo pra que o espectador não queira ver o que está na tela - e ainda filma o terceiro ato durante o dia, num sol de rachar, ao melhor estilo Seven. A atmosfera árida, a edição e o posicionamento da câmera criam um cenário pós-apocalíptico, bem Mad Max mesmo. E o que era aquela trilha recheada de barulhinhos undergrounds de 1970 e picos?!
Claro que os remakes ruins vão superar os bons, sempre. Mas se de cada cem sair um massa como este, então o mundo tem remédio, sim senhor. Espero que Aja não vire tão cedo um fantoche de estúdio, como aconteceu com o Craven. Mas aí já terei em mãos o meu DVDzinho em edição especial, com seus dois minutos de sanguinolência censurada, para rever sempre que tiver vontade de... chamar o Hugo. Nota 8,5.

O nível de qualidade do Festival de Gramado, sempre se soube, não é dos melhores. Vez que outra aparece por lá um O Filho da Noiva, mas é muito raro que filmes realmente fora de série sejam selecionados. Anjos do Sol, um longa corretinho, saiu vencedor este ano. O relato é de um tema espinhoso: a exploração sexual de crianças em áreas distantes onde noções de lei ou cidadania não parecem existir. Tudo muito bem feitinho - o diretor Rudi Lagemann vem direto da publicidade, currículo-base de cineastas como Fernando Meirelles e Walter Salles. Um dos problemas que acabam minando algo da credibilidade desta sua estréia é o desenho dos vilões; por mais que Antonio Calloni, Otávio Augusto e Chico Diaz estejam ótimos em cena, seus personagens são muito espetaculosos e caricaturais pruma fita que almejava ser realista. Mas torço pra que faça uma boa graninha. P.S.: o Gordo é o cara mais mochileiro que eu conheço, por isso foi uma experiência muito diferente estar ao lado dele na sessão. Foi mais ou menos como estar acompanhado de um guia turístico. De vez em quando ele largava um "olha só, a Cidade Baixa de Salvador!" ou "bah, mas aquele índio não podia cortar a macaxeira daquele jeito". Nota 6,5.

O que esperar de algo chamado King Kong x Godzilla? Muita pancadaria entre os monstrengos, não? Pena que isso o filme tenha pouco. Cometido em 1962 pelo megafalcatrua estúdio japonês Toho, o longa traz uns bichos de borracha de fundo de quintal trocando socos, pontapés e rabadas em três breves seqüências. Os fãs de um bom e velho trash até vão topar com uns achados. A primeira aparição pública do lagartão, por exemplo, é antológica: ele sai de dentro de um iceberg a cabeçadas, e um japa num avião grita "Gojiraaaaaaa!", meio que batizando o bicho do nada. A de Kong não fica atrás. Após uma louca dança conjunta em que uma cambada de índios (tudo japonês pintado de preto e com panos embaixo dumas saias de palha, algo inacreditável) evoca os deuses da chuva, o gorilão chega CHEGANDO. Mal-feito pra dedéu, com uma fantasia pior que aquelas de carnaval. Ah, e para o diretor a Ilha da Caveira fica logo ali, em Tóquio. Como de praxe nesses B nipônicos, todas as maquetes são de papelão e isopor mal pintado, e os atores exibem uma canastrice que não dá pra perder. Pensando bem, mesmo com baixo nível de porrada a diversão é garantida. Nota 6.

Harrison Ford ainda tem fôlego para correr atrás de nazistas, cartéis de drogas, extraterrestres, terroristas e o escambau, mas um bom roteirista o cara não pega desde os tempos de O Fugitivo (1993). Firewall é mais um material de segunda linha estrelado por ele. Por mais que seja bacana a cena em que o Indiana mata um dos bandidos a golpes de liquidificador (!), é difícil levar a sério coisas como um vilão Bombril que é hacker, assassino frio e um mentiroso de primeira, tudo ao mesmo tempo agora. Falando nisso, os produtores não perdem a chance de faturar em cima do patrocínio - é Microsoft aqui, Nokia acolá... até um iPod salva a pele do mocinho! E os diálogos, então? "Onde você vai?"; "Achar meu cachorro!", e o Harrison arranca a mil, em busca da família seqüestrada. O pique é até legalzinho da metade pro final (quando Ford atravessa vidraças, escala prédios, quebra paredes de madeira e sai no braço com caras 30 anos mais jovens), mas aí a credibilidade já foi pro saco há horas. "Alô, Spielberg? É Harrison falando! Harrison FORD, tá lembrado...?". Nota 5,5.

Terra Fria é o enésimo mulher-forte-luta-contra-as-injustiças-do-mundo, na esteira que já nos deu Norma Rae e Erin Brockovich. Com direito a momento "eu sou Spartacus!" e tudo. Não rola, né? Nota 6.

Algo como a Primeira Temporada de Sex and the City diz muito mais sobre as mulheres que qualquer Terra Fria. Mesmo com toda a simplorice. Nota 7,5.

Nada muito o que falar sobre A Névoa, mais uma bola-fora desses maditos remakes hollywoodianos. Tudo bem darem uma nova roupagem a King Kong ou O Massacre da Serra Elétrica, obras que marcaram época. Mas quem se lembra de A Bruma Assassina? Olha só a idéia dos caras: comunidade costeira na Califórnia é completamente cercada por uma densa (e mortal) névoa. Veja bem, a ameaça não vem de tubarões, terremotos ou psicopatas de faca na mão, mas uma fumacinha mixuruca que não mete medo em ninguém! Ainda menos em nós, moradores rio-grandinos, que já tamos acostumados à maldita cerração outonal - isso sem falar nos gases poluentes emitidos pelas indústrias em dia de chuva... Aquilo lá, sim, é de arrepiar os pentelhos! Nota 3,5.

Os Goonies vem de uma época em que sequer se sonhava com DVDs, muito menos com extras recheados de entrevistas, making of e cenas excluídas. Uma época em que a Sessão da Tarde obrigava a gente a se atrasar para a aula de Educação Física. Em que uma frase tipo "come em cima dum prato!" não fazia muito sentido pra mim. Uma época em que o Spielberg resolveu ser Walt Disney, e ouvir Cindy Lauper era uma coisa muito legal pra se fazer. Já disse que sempre volto a ser criança com o Sloth? O disquinho do filme foi um presente do impagável Raphael, diretamente de Londres, que chiquê. Nota 9 (por muito, muito tempo foi DEZ).

Um híbrido curioso esse O Amigo Americano (1977). É thriller com andamento de filme de arte, comandado com tesão por um Wim Wenders jovial. Só que o legal mesmo é ver Dennis Hopper no ápice da loucura. Foi mais ou menos nessa época que ele foi encontrado peladão numa rua escura, à noite, falando um amontoado de frases desconexas. Drogadito, eu? Nota 8.

Esses hermanos... Esta semana pintou lá em casa o cult em potencial O Abraço Partido. A ação é ambientada em Buenos Aires, mas o pano de fundo podia ser qualquer cidade brasileira, européia ou asiática. Do alto de seus 20 e poucos anos, Ariel (Daniel Hendler, num tour-de-force merecedor de muitos prêmios e aplausos) trabalha com a mãe numa galeria comercial decadente, onde eles têm uma loja de lingerie. Os lojistas da galeria misturam italianos, coreanos e uruguaios, e são quase como uma grande família. O magrão sonha em conseguir um passaporte polonês, para morar na Europa e assim se aproximar do pai, que abandonou-os antes do seu nascimento para lutar em Israel. A globalização e a multicultura estão aí, e manifestações artísticas como esta servem pra mostrar que mesmo sendo todos iguais, precisamos descobrir um pouco mais sobre nossas origens, nossas raízes. Acima de tudo é um filme do povo, espirituoso, de se identificar com detalhezinhos aqui e ali (vai dizer que a tua avó não deixa a água fora da geladeira "por causa da garganta"?) e chorar de emoção por isso. Amores Brutos, Nove Rainhas, Plata Quemada, Whisky, Diários de Motocicleta, Campanella e agora este: é tanto filme fodão que volta e meia bate um orgulho danado de ter nascido por estas plagas. Nota 8.

No fone: Camera Obscura - "Let's Get Out of this Country"

9/11/2006

Picanha

Querido leitor, seguinte: saí na Zero Hora de sábado. Cortesia do sempre excelente Rodrigo Santos, que fez uma supermatéria sobre a situação dos cinemas aqui no interiorzão gaúcho.
...Autógrafos, a partir desta semana.

No fone: Iron and Wine - "Cinders and Smoke"

9/04/2006

Campanella & Brant mostrando serviço, um Cronenberg revisto, Steve Martin vice-versa...


Na crítica cinematográfica, costuma-se falar muito em obras baseadas em romances tidos como "infilmáveis". Naked Lunch, livrinho claramente escrito sob efeito de drogas pesadas pelo doidão William S. Burroughs e transformado em desconcertante obra-prima por David Cronenberg em 1991, merece esse jargão mais do que qualquer outro. Sabendo que a tarefa era impossível, e mandando uma grande banana para a indústria que mais mata artistas no mundo (thaaaaat's Hollywood), Cronenberg foi lá e fez Mistérios e Paixões. Fico imaginando as pessoas que alugam um filme pelo título dando de cara com gente viciada em veneno de barata, enrustimento homossexual e alucinações capazes de transmutar máquinas de escrever em insetos gigantescos, com esfíncteres falantes e repletos de secreções.
Tinha visto o filme uma vez só, em VHS, lá pelos meus 12, 13 anos. Boa parte dele permaneceu comigo, e essa sensação, espero que alguém aí já tenha tido, é boa demais. O ex-Robocop Peter Weller é impecável como Bill Lee, escritor frustrado que extermina baratinhas para pagar suas contas. Sua mulher Joan (Judy Davis, amarga que ela só) está viciada no barato que o pó lhe causa; Bill dá uns tecos na substância e entra num processo interminável de viagens. Chega uma hora em que, tão alucinados quanto ele, já não sabemos diferenciar a verdade e o delírio. Uma proeza beatnik, feita sob medida para o grande público odiar de verdade. Donos de mente aberta e estômago forte, façam sua parte e amem-no, amem-no com todas as forças. Nota 9.

Meu amigo Rodrigo resumiu bem Piratas do Caribe - O Baú da Morte na saída do Cine Figueiras: enquanto ação, é melhor(zinho) que o primeiro; já o roteiro parece ter sido escrito a quatro mãos por Renato Aragão e Ronaldo "Chespirito" Bolaños. Isso aí. Fora o enredo, o qual nem é bom lembrar, é dose suportar quase duas horas e meia de gente feia, suja e unilateral - tirando Orlando Bloom e Keira Knightley, todo mundo parece interpretar com uma colher de sopa de Nescau na boca. Tudo bem que dentistas eram raros na época, mas aquilo lá já é demais. Nota 6.

Eles tinham razão: Tomilidiones é mais diretor que ator. Três Enterros, seu début, revela um cineasta literalmente com as rédeas na mão e calejado na direção de atores. Muito além do que aquele rosto durango e cheirando a pêlo de cavalo mostra na telona. Vai pegar a câmera, homem! Nota 7,5.

Não percam os extras do DVD de Crime Delicado. Acompanhar de pertinho o sessentão Walter Carvalho, um dos maiores fotógrafos do cinema, explicando com minúcias o seu trabalho enquanto queima unzinho sentado à mesa de bar é algo que não tem preço. O filme, ainda mais imperdível, traz uma coleção de planos fixos per-fei-tos; numa seqüência em particular, toda desenrolada em cima do palco (aprende, Camurati), o Nachtergaele faz questão de reforçar quem é o melhor ator do Brasil. A dobradinha Beto Brant-Marco Ricca (de O Invasor) é para ficar de olho. Nota 8.

V de Vingança tem algumas boas idéias e impecáveis elenco e produção. Deve fazer bonito nas locadoras, mas de NOVO, de empolgante e inspirador como se pensava que fosse, traz pouco. Será que eu esperava um novo Matrix? Os colhões da fita são inegáveis, ainda mais nesses tempos de WTC: fala-se em bioterrorismo, escutas ilegais, campos de detenção... Assumidamente esquerdista, essa adaptação de Alan Moore é dirigida meio no susto pelo estreante James McTeigue, assistente de direção na trilogia de Neo; os Wachowski só assumiram o roteiro e a produção. Algumas ideologias impostas pelo roteiro são questionáveis (mostrar o terrorismo como única saída para fazer o bem, por exemplo), e certas seqüências pediam um pouco mais de intensidade, de sangue mesmo. O negócio é deixar o som no volume mais alto possível e se empanturrar com aquela pipoca do saquinho rosa. Nota 7,5.

Muito se falou na revolução que O Coronel e o Lobisomem provocaria nos efeitos digitais brazucas, que seria um divisor de águas e blablablá. Coisas da produtora Paula Lavigne. Qualquer Um Lobisomem Americano em Londres, feito num longínquo 1981, bate ele. O filme não é engraçado, romântico ou assustador. Diogo Vilela e sua barba Los Hermanos não incomodam tanto, mas Selton Mello e Ana Paula Arósio estragam a festa. Que vozinhas irritantes, e (agora me referindo só a ele) que desperdício de ator. Investir em efeitos não é mesmo coisa pra artista brazuca, mas de acertar o tom do elenco a gente entende, né? Quem não lembra do medão que dava quando pintava o professor Astromar em Roque Santeiro? Aproveitando a deixa, por que não incluíram na trilha aquela "mistérios da meia-noite, que voam longe..." no lugar de três ou quatro faixas do Caê, hein Paulinha?? Nota 5,5.

Quando o ator é realmente interessante, não dói tanto ter de agüentar filmezinho de doença da semana. Sem William H. Macy, talvez De Porta em Porta fosse mais um desses Supercines chororôs. Bom que o renegado astro de Magnólia e Boogie Nights faz questão de mostrar que papéis centrais são com ele mesmo. Nota 7,5.

Quem sente saudade da época de Antes Só do que Mal Acompanhado, Roxanne e Um Espírito Baixou em Mim não vai saná-la com A Garota da Vitrine. Pelo contrário, vai conhecer um Steve Martin sério e contido. Sua atuação não é digna do Oscar; já o roteiro, de sua autoria, pode ganhar alguns admiradores, em especial os fãzocas de Lost in Translation e Rushmore. Claire Danes e Jason Schwartzman me conquistaram de vez. Nota 7,5.
Mais óbvia, a nova A Pantera Cor de Rosa traz o Steve Martin que todos gostam: paspalhão, cara de pau e dono de uma incomparável expressão corporal. Aqui ele protagoniza muita piada vista e revista, mas eu já havia esquecido de ter dado duas gargalhadas, daquelas de ficar sem respirar, numa comédia. Mesmo não sendo a oitava maravilha, não é tão merdão quanto se pintou por aí. Nota 6,5.

Lá pelas tantas de Clube da Lua, Eduardo Blanco e Ricardo Darín estão confortavelmente sentados num sofá, assistindo à TV e discutindo sobre suas vidas amorosas. Papo vem, papo vai e aí o primeiro se vira e liberta uma sonora flatulência quase na cara do outro. Se o peido foi mesmo de verdade eu não sei, mas o ato ilustra bem essa primeira trinca concluída pelo diretor Juan José Campanella (fecham o pacote O Mesmo Amor, a Mesma Chuva e O Filho da Noiva): um esforço conjunto natural e que flui como poucos, cujo resultado vê-se na tela, integral, do trabalho com o cast à fotografia e a montagem. Gosto de pensar que o clima de confraternização visita o set todo dia. E as lágrimas também. Pensando seriamente em comprar uma camiseta da Argentina. Nota 8,5.

Só a idéia original já é merecedora de alguns prêmios. Totalmente Kubrick exibe o manjado carimbo de "baseado em fatos reais", com atrações extras para os cinéfilos. Trata-se da história real de Alan Conway (John Malkovich, a-do-ran-do a função); apesar de nada saber sobre o trabalho de Stanley Kubrick, ou mesmo ser parecido com ele, esse picaretão resolveu tocar o terror e convenceu uma série de pessoas que era o diretor durante as filmagens londrinas de seu canto de cisne, De Olhos Bem Fechados. O responsável por este Colour me Kubrick, Brian Cook, foi diretor-assistente do cineasta em Barry Lyndon e O Iluminado, entre outros. Deve ser por isso que a produção funciona ao também salpicar, aqui e ali, referências e brincadeiras com a obra do mestre. Cool. Nota 6,5.

No fone: Bob Dylan - "Rollin' and Tumblin'"

8/25/2006

Hitch das antigas! Badlands, In Cold Blood!!

Isto vai parecer meio gay, mãããns... vá lá: não consigo caber em mim de tanta alegria!! Porque acabo de assistir a um dos filmes da minha vida, A Sangue Frio (1967). Licencinha, mas não dá pra não encaixar uns adjetivos aqui.
O esquema é baseado no livro homônimo de Truman Capote, e quem não conhecia teve sua chance este ano nos cinemas, com o Seymour na pele do escritor: dupla de assaltantes chacina uma família inteira numa cidadezinha do Kansas. Tudo isso por míseros 40 dólares, um rádio e um binóculo.
O estilão imposto pelo diretor Richard Brooks em quase todos os setores garante à produção um frescor que não se vê em tudo que foi feito de 1970 para trás. O elenco é mais naturalista, já não traz aquela empostação que às vezes acaba distanciando as novas gerações dos clássicos. Crássico que é crássico, aqui entre nós, não precisa de astros. Tem é que durar. E isso, este aqui tem de montão. Impressionam os assassinos interpretados pelos desconhecidos Robert Blake e Scott Wilson (sarcasmo e maneirismos idênticos aos de Edward Norton). Quincy Jones fornece ao longa toda a eletricidade que ele necessita, com um tema musical jazzístico-fodástico - exatamente a trilha que eu imaginei praquelas festas descritas por Kerouac em On the Road. Quincy foi indicado ao Oscar, bem como a direção e o roteiro de Brooks e a fotografia em P&B do falecido Conrad L. Hall (de Beleza Americana). As curiosidades são muitas: o estúdio queria a dupla Paul Newman e Steve McQueen como protagonistas, mas Newman preferiu atuar em Rebeldia Indomável, enquanto McQueen optou por Bullitt; para dar autenticidade ao filme, Brooks rodou nas locações onde os fatos realmente aconteceram, incluindo a casa dos Clutters; e as fotos vistas nos quartos da casa são da verdadeira família.
Não há o que discutir: foda até dizer chega. Vou ter que pedir o livro emprestado pra sogrona. De novo. Nota 10.

Tivesse o décimo do carisma de um Jack Nicholson, e William Hurt era hoje um dos maiores astros do cinema. Mas não. Ele se contenta em ser "apenas" um dos grandes atorzaços que têm por aí. O neo-noir Corpos Ardentes, filmão que pinga suor como poucos, é prova disso. Junto a Hurt e Kathleen Turner, é grande o prazer em ver Mickey "Marv" Rourke na flor da idade, e recitando umas falas tarantinescas em pleno 1981. Lawrence Kasdan era "o" roteirista mesmo. Nota 8,5.

Me diverti às vera com Os Produtores - mesmo com este meu, admito, pé atrás com remakes. Se o clássico de Mel Brooks era tão redondinho, pra quê dar a ele uma nova roupagem? Apresentá-lo às novas platéias? O DVD tá aí pra isso, não?! O legal é que todo mundo só pode ter ficado em estado de delírio durante as filmagens desta adaptação de Primavera para Hitler. Nathan Lane e o Ferris Broderick fazem uma parceria gozadíssima, e o elenco de apoio (tirando Uma Thurman e Will Ferrell, quase todo desconhecido) não fica atrás. Os números musicais não são o bicho; ao final quem reina é a metralhadora de gags deliciosamente idiotas. Por que o Casseta não é mais assim? Nota 7,5.

A simples presença de seres urbanos é capaz de provocar um revertério no cotidiano do interior, uma vez que alguns moradores, pacíficos e satisfeitos com suas vidinhas jecas, começam a se sentir inferiores em comparação aos visitantes. Eu, que moro em Rio Grande, nos confins do RS, já passei por situação semelhante. O jeitão provinciano comanda por aqui. As dificuldades impostas pelo baixo orçamento são visíveis, porém Retrato de Família (Junebug) é daqueles pequenos filmes com identidade própria e um coração que bate forte. Bom dizer que o seu charme é visível somente aos olhos dos espectadores mais pacientes; nada é resolvido com facilidade, porque a vida, minha gente, não é nada fácil. Destaque para as canções da trilha, todas assinadas pelo legalzão Yo La Tengo. Nota 7.

Vez que outra aparece um Profissionais do Crime por aqui. Gozado que Fulltime Killer virou cult na terra do sol nascente, onde todo mundo adora uma pancadaria coreografada. Não à toa, a produção estrelada pelo big star Andy Lau arrecadou não sei quantos milhões no Japão. Os brasileiros ainda preferem o bom e velho estilo hollywoodiano de se contar uma história de ação (leia-se 10 explosões + 5 tiroteios + 0 roteiro), e deve ser por isso que a gente nunca tinha ouvido falar desse filhotinho de John Woo. Amantes do cinema de referências têm aqui um compromisso inadiável: na mesma panela, são cozinhados Caçadores de Emoção, O Profissional de Luc Besson, quadrinhos, música pop e muito mais temperos. É por isso que eu digo... viva o DVD. Nota 7.

Tem uma cena em Six Feet Under, acho que na quarta temporada, em que os personagens estão curtindo Terra de Ninguém (1973) num desses madrugadões da TV. Que vontade me deu! Quando o achei num site de compras, comprei-o-o sem hesitar (thanks, Pimpidrigo). Tinha certeza que uma pérola me esperava. A maioria acha Malick pedante, pseudo-filósofo ou, pura e simplesmente, um "chato"; outros, como este que vos fala, conseguem admirar a beleza inusitada que ele impõe a barbaridades como casais de jovens assassinos, índios escalpelando ingleses com muita vontade e soldados ingênuos explodindo granadas dentro do bolso. Digo e repito: Terrence Malick é um profundo conhecedor da alma humana, e o cinema foi inventado para cineastas como ele. Nota 8,5.

Quem vê Kevin Spacey e Morgan Freeman posando de machões no cartaz de Edison - Poder e Corrupção garante que está prestes a assistir a um grande filme, com personagens complexos, cheios de traições e segredos. Nenhum dos astros, entretanto, é suficiente para compensar outra figura presente não apenas no cartaz original como em todo o filme: o pseudo-cantor Justin Timberlake. Até podia render um thriller policial bacaninha, não fosse a enfadonha presença do ex-Britney Spears e do roteiro, carente de continuidade e repleto de situações mal desenvolvidas. Saca só a viagem: um reporterzinho iniciante decide, da noite para o dia, acabar com a corrupção policial de sua cidade. Tudo isso em busca de nada menos que... o Pulitzer! Faz-me rir. Nota 3,5.

Produção da Globo Filmes é isso aí: quando o enredo ameaça sair dos trilhos, o negócio é ficar de olho nas participações de luxo: "ih, ó lá o Bial"; "bah, o careca marido da Marta da novela das oito!"; "o zolhudo do Zorra Total!"; ou "putz, mas o Francisco Milani não morreu?". Irma Vap - O Retorno, inspirado na bem-sucedida peça de mesmo nome, é bem isso. Um amontoado de astros e estrelas globais (ainda tem Arlete Salles, Marieta Severo, Diogo Vilella, Paulo Betti, Louise Cardoso...) derramando um punhado de frases feitas de dar dó, e que só servem para cumprir contratos. Nanini e Latorraca, competentes como sempre, arrancam suas gargalhadas; o problema é que a Carla Camurati parece um rinoceronte africano atrás das câmeras. O produto final acaba sendo um tele-teatro projetado em 35mm, um interminável teste para olhos, ouvidos e saúde mental. O artista brasileiro precisa, com urgência, saber diferenciar teatro, cinema e TV. Chega de Frankensteins! Nota 5.

Rodado no mesmo ano da oscarizada estréia Rebecca, Correspondente Estrangeiro (1940) foi o segundo trabalho de Hitchcock em Hollywood. O gorduchão não existia mesmo. Sem nos deixar respirar, o longa mostra um jornalista americano envolvido numa rede de espionagem na Europa, em pleno estouro da II Guerra, e é um claro chamado do cineasta pra que os EUA entrassem no conflito. O apelo marqueteiro é compensado pelas ótimas interpretações e o talento do cineasta. Tem um punhado de cenas antológicas, entre elas o assassinato de Van Meer (essa aí da foto), a eletrizante fuga do repórter no parapeito dos prédios e os 15 minutos finais, onde efeitos especiais surpreendentemente realistas reconstituem a queda de um avião (Roland Emmerich nenhum faria aquilo há 65 anos). Nota 8.

Provando que para ser 007 tem que ser no mínimo um bom ator, Pierce Brosnan deita e rola em O Matador. Sua indicação ao Globo de Ouro valeu mesmo a pena. O filme em si me lembrou muito Matador em Conflito, com John Cusack, A Máfia no Divã e tantos outros em que assassinos têm dificuldade de conviver com gente "normal". Mas a vontade em filmar da direção faz de The Matador um programa dos bons - e com identidade própria. Nota 7,5.

No fone: Nine Black Alps - "Unsatisfied"

8/04/2006

A primeira vez

Carros foi a primeira sessão de cinema de Gustavo Caldeira Halal, uma minúscula criaturinha de 31 meses de idade. Corujices e álbuns de figurinhas à parte, a escolha não podia ser mais acertada - até porque tamos carecas de saber que a Pixar não faz filme ruim. O estúdio, depois de animar brinquedos, insetos, humanos e monstros gente boa, agora investe no objeto mais interligado ao homem industrializado. Assim, desfilam pela telona possantes máquinas de stock-car, caminhões de bombeiro engraçadíssimos, 'banheiras' antigonas, Porsches sensualíssimas... O enredo não precisava daquele efeitinho moral perto da conclusão, né, mas Pixar é sempre Pixar. São muitas as sacadas geniais, a começar por Paul Newman, aqui emprestando seu vozeirão a um carrinho aposentado. E quem diria que o melhor ator coadjuvante do ano seria um caminhão-guincho? Seu Gugu dormiu em cima dum balde de pipocas, para depois acordar e conferir os 15 minutos finais no meu colo. Pelo visto, adorou o esquema. P.S.: Só não levo na Xuxa. Nota 8.

Caraca! Como valeu essa angústia de dois ou três anos pelo terror coreano A Tale of Two Sisters!! Recenzinha lançado em disquinho digital, o verdadeiramente arrepiante e criativo Medo (eita, sr. tradutor!) mostra duas irmãs que acabam de sair do amarelinho e se mudam para a casa do pai & madrasta. As duas são inseparáveis, o pai ausente, e a madrasta, má como o inferno, vive perseguindo a irmã mais nova. A mais velha não suporta a situação, e o tempo fecha seguido entre ela e os coroas. Eis que fatos esquisitos começam a acontecer no casarão, e aí dá pra dizer: há tempos não se via uma fita de fantasmas e suspense psicológico tããããão paulada. Ringu, Ju-On, The Eye, Espíritos? Nenhum oriental mal-assombrado é páreo para este. Nasce um clássico, com visual inacreditável, sustos de verdade, personagens complexos, revelações mil e, o melhor de tudo: encagaçante do início ao fim. Aproveite enquanto o remake não vem. Nota 9.

Vez que outra, faço visitas àquela locadora que não vejo há uma era. É nessas horas que me deparo com antigüidades legais. Outras, nem tanto. Só fui ver Dublê de Corpo (1984) agorinha, depois de velho. Sou um puta fã de Carrie, Um Tiro na Noite, Vestida para Matar, Os Intocáveis e outros do De Palma... Mas esse aí envelheceu um bocado, e, vão me desculpar, não deu pra engolir todas aquelas reviravoltas mirabolantes. Já a Melanie Griffith... Nota 5,5.

O filhote da Globo Filmes A Máquina é aquele tudo-ao-mesmo-tempo-agora já visto em, para ficarmos em dois exemplos recentes, Domino e Moulin Rouge (OK, gosto deste último). Quer ser moderninho mas não passa de um afetadíssimo samba do crioulo doido, fazendo dodói na cabeça do vivente com sua mescla de videoclipe demodé, Teatro do Bebé, programa de auditório a la João Kleber, duvidosos efeitos artesanais e a rebimboca da parafuseta. Pô, e eu amo tanto Lázaro Ramos, Wagner Moura, Paulo Autran, Walter Carvalho, Chico Buarque... Era tanta gente boa envolvida que a decepção com a fita doeu ainda mais. Foda mesmo é a (falta de) direção. João Falcão, filho, coragem não te falta. Mas como diria o nosso poeta Frank Jorge, um pouco de talento não faz mal a ninguém. Nota 5,5.

Vi Nove Rainhas pela terceira vez. Novamente dublado, no SBT. R.I.P., caro Bielinsky. E... gracias. Nota 9.

Pelas mãos do mesmo Stephen Wooley do legalzinho Backbeat, Stoned - A História Secreta dos Rolling Stones parece ser o mais recente capítulo da maior batalha do rock (Beatles x Stones, oras). A atração-mor fica com a reconstituição de época, em que brilham cenários, figurinos e penteados muito freaks. A velha trinca sexo, drogas e rock'n'roll é respeitada - mesmo que a trilha não tenha nada de Stones e as drogas sejam mostradas meio de canto. Já o sexo, ainda que mole e balançando, vem em grandes quantidades; nunca se viu tanto nu frontal numa produção (relativamente) mainstream. Nota 6,5.

De vez em quando pego umas fotos no Adoro Cinema. Sitezinho bem aceitável, traz também cartazes, fichas técnicas, notas de produção e cotação dos leitores. Pois não é que na seção dedicada a A Casa dos 1000 Corpos há só duas notas: um zero e... um 10! Nada poderia ser mais próximo da verdade. Ame ou odeie, Rob Zombie respira ares trashes como poucos. A seqüência Rejeitados pelo Diabo é muito mais bem-acabada e talicoisa, só não traz a alma tão podre quanto a desse primeiro. Tem uma ceninha ao som de "Now I Wanna Sniff Some Glue", dos Ramones, que não tá pra brincadeira. Nota 7.

Estranhamente, o novo Bergman não chegou ao Brasil e vai direto para DVD pela mesma Sony que preferiu não exibi-lo na tela grande. Saraband é fantástico. Os extras são um es-pe-tá-cu-lo à parte, mostrando o processo criativo de um dos pouquíssimos cineastas mitológicos ainda vivos. Que outro filme tem personagens centrais à beira dos 90 anos? E PELADOS? Nota 8.

Entre um Garfield 2 e um O Filho do Máskara, Bob Hoskins se dá ao respeito de participar de coisas legais como Sra. Henderson Apresenta. Excelente ator, esse. Ao lado de uma antagonista do porte de Judi Dench, o homem brilha como nunca. Nota 7,5.

Alta Tensão é o nome de dois filmes. Um deles, com Mel Gibson e Goldie Hawn, de vez em quando estampa a Sessão da Tarde e é uma aventurinha bem leve, descontraída, tipo alguns sopapos e as perseguições de sempre. Mas Alta Tensão é também como foi batizado por aqui Haute Tension, estréia do diretor Alexandre Aja (do novo The Hills Have Eyes) e um festival de grosserias em forma de fita de horror francesa. Ao longo de 91 minutos, somos submetidos a decapitações no melhor estilo Irreversível (sem cortes na edição), motosserras arrebentando caixas torácicas, crianças e cachorros em execução sumária, pedaços de pau enrolados em arame farpado fazendo bonito e a participação especial de uma navalha, capaz de te tirar a vontade de ir ao barbeiro este mês. Tudo é filmado com alto grau de terror, violência e morte. Liberdade criativa é isso aí; pobrezinhos daqueles que ainda se espantam com coisas pretensamente brutas como Jogos Mortais. O já citado Mel "torturador de Jesus" Gibson que deve ter se arregalado com tanto sangue. Nota 7,5.

Numa de suas melhores músicas, o Primal Scream vocifera "kill all hippies!". Eu não iria tão longe a ponto de exterminá-los da face da terra, mas não há quem não compreenda o porquê da letra; esses chatonildos são mesmo a praga da globalização-retrô. Mesmo assim, confesso que foi uma experiência sensorial conferir aquele final de Hair, ao som de "Let the Sunshine In". Cá entre nós, qualquer forma de arte que ridicularize militares e dê força para a desobediência civil merece aplausos. Milos Forman é um dos meus deuses do cinema. Só não venham me forçar a ficar viajando nessa onda hippie-fashion. Nota 8,5.

No fone: The Beatles - "Wait"

7/19/2006

At last

Quem disse que especialização não é grande coisa? O diploma de Cinema na Faculdade da Califórnia, tirado há dois anos por Steven Spielberg, fez bem ao pai dos cineastas pop. O homem se puxou: o thriller Munique é seu título mais adulto, talvez o mais contundente e corajoso de uma vitoriosa (e, ultimamente, irregular) carreira de quase quatro décadas. Para tanto, o diretor brincalhão de monstrinhos amigos (E.T., Contatos Imediatos, A.I.) e outros nem tanto (Tubarão, Jurassic Park) finca seus pés de volta à realidade e num de seus temas prediletos: a eterna batalha entre judeus e palestinos. O pano de fundo são os Jogos Olímpicos de 1972, borrados pelo ataque fatal do movimento islâmico Setembro Negro a onze atletas da delegação israelense. Quem alugar o DVD esperando encontrar mocinhos e bandidos bem definidos, mortes fantasiadas, frases de efeito e todas essas coisas que Spielberg adora vai se arregalar. Ao final de suas quase três horas, Munique resulta seco, cru, um diretaço na nuca. Imagina se o cineasta resolve meter um Pós ou um Mestrado... Uma vaguinha no Top 5 do ano, faz favor. Nota 9.

Bem no comecinho de Superman - O Retorno, uma leve 'prafrentexada' na música-tema e na fonte dos letreiros que embalaram minhas Sessões da Tarde e almofadas por anos a fio já indicava a chegada de "muitas emoções". Quando surge a figura de Marlon Brando em majestoso CinemaScope, então, a gente fica se babando que nem a mulher aquela do depoimento da novela. Não vou negar que o mais-do-mesmo impera durante boa parte da projeção... pra depois dar lugar a um singelo ensaio sobre... é... ah, não vou contar. Bryan Singer, o superboy das HQ's em película. Nota 8.

E O Código Da Vinci, hein? Alguém devia avisar o Ron Howard pra parar de filmar. E isso é para ontem. Nota 4,5.

Vice-Versa, Tal Pai, Tal Filho, Sexta-feira Muito Louca e agora Se Eu Fosse Você. Não adianta, sempre entrego uma risadinha que outra com filmes de troca de identidades. Simplesmente não consegui não gostar, parece ser uma daquelas paixões escondidas ao estilo Rei Majestade. E olha que esses últimos videofilmes nacionais têm me irritado bastante. Nota 6.

Cinebios podem ter alma? Reese Witherspoon é assim tão irritante? Joaquin Phoenix é tão talentoso quanto seu finado irmão River? Johnny & June soluciona questões como essas com toda a competência e sensibilidade do mundo. Só o fato do nosso estômago não se manifestar quando a Reesevel entra em cena já merecia louvores, mas achei esse resumão da vida de Johhny Cash muito legal, mesmo. Pra quem curte um rock de raízes, então, o prato fundo transborda. E Joaquin, já és um homenzinho! Nota 8.

No início dos execráveis-mas-sempre-lembrados 80's, o Spielberg lá de cima resolveu pôr em prática seu potencial empreendedor e foi ser produtor executivo. Apadrinhou e tirou uma baita grana com uma pá de gente talentosa - que o digam Robert Zemeckis, Richard Donner, Tobe Hooper, Joe Johnston... Entre esses, um dos grandes destaques era o bacanudo Joe Dante, diretor dos aconchegantes Gremlins, Piranha e Viagem Insólita. O novo dele, um tal de O Candidato Maldito (Homecoming) faz parte da sempre irregular série Mestres do Terror, da Paris Filmes. Pena que o média-metragem (50 e poucos minutos) que engloba zumbis e eleições presidenciais (??) pertença às frutas podres do pacote. O diretor permanece um B de carteirinha, até segue cumprindo seu papel de dar cutucadinha no sistema... só que dava pra exigir mais. Dexovê aqui cadê o e-mail do Spielberg... Peraí. Nota 5,5.

A história de Caçadores de Mentes lembra um pouco a do sucesso-de-locadora Identidade, com John Cusack, aquele, o do cartaz legal. Só muda a ambientação: o FBI leva pruma ilha sete futuros agentes para um último treinamento, aparece um assassino entre eles e a desconfiança mútua gera tensões e algumas cenas capengas de suspense. Não dava mesmo pra se esperar muito mais do que isso. Foda é que temos aí dois atores de talento mal aproveitados (Slater tem a morte mais ridiculamente filmada dos últimos dez anos - Premonição incluído!) e um roteiro com mais balão que festinha do Infinito. Num domingão chuvoso até quebra o galho, mas tá muito aquém do talento do ex-especialista em ação Renny Harlin (que deve ser lembrado mesmo pelos bons Duro de Matar 2 e Risco Total). Nota 5.

Muito frio Impulsividade. Nem o elenco bacanudo (Vincent D'Onofrio, Tilda Swinton, Vince Vaughn) consegue nos atrair para a historieta em formato Sundance do magrão que segue chupando o dedo aos 17. É tudo muito banal e não merece os ares profundos que se supõe. Legal é que, sempre que o filme ameaça cair no marasmo total, o diretor Mike Mills taca um musicão do Polyphonic Spree ou de Elliott Smith (não sabia que este tinha gravado "Trouble", do Cat Stevens!). Deve agradar, e só, a quem usa óculos quadrados de aro grosso. Nota 6,5.

Haneke é um cineasta único. Código Desconhecido, outra prova disso. Vem, Caché, Caché, vem Caché, Caché, vem, Caché, Caché veeeemm! Nota 7,5.

Ainda tô em dúvida sobre meu seriado preferido. Seria Six Feet Under, do qual fiquei amicíssimo por quatro temporadas, já? Ou então Nip/Tuck, que recém vi a 2ª Temporada? Ainda não sei. Tirem a prova vocês mesmos. Nota 9.

Syriana. Códigos. Nota 7,5.

O Filho do Máskara é aquele tipo perigoso de comédia que nos faz rir justamente pela completa falta de graça. Por Lóki, conseguiram fazer uma seqüência mais estapafúrdia que a de Débi & Lóide!! E o que que o Bob Hoskins tava fazendo lá, me diz?! Nota 1.

Coisa boa quando a gente tira a prova dos nove. Sempre tem aqueles que a gente vê pela primeira vez e termina chapado, estupefato, com a dúvida pairando no ar: foi tão bom assim? Depois de assisti-lo pela segunda vez, dá pra dizer que Sideways é ainda melhor. O filme mais engraçado que eu lembro de ter visto desde... sei lá, acho que desde os Monty Python. Nota 9,5.

A Era do Gelo 2 fica no meio-termo entre um Pixar e um Disney da nova safra. Nada demais, nada de menos, eficientil e era isso. Nota 6,5.

Peter Jackson passou a ser respeitado mesmo foi com Almas Gêmeas (1994). Mesmo que o mundo tenha aberto a boca com O Senhor dos Anéis e seus 20 Oscars, e meu preferido dele seja sempre Fome Animal, Heavenly Creatures é muito bem desenvolvido, adulto e impactante. Só não levou o Oscar de roteiro porque havia ali na frente um tal Pulp Fiction. E, cá entre nós, o neozelandês merecia todos os prêmios por revelar a gracinha da Kate Winslet. Nota 8.

Terror tailandês, como assim? Não fosse a moda dos exemplares asiáticos do gênero, Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado jamais ganharia as telas dessa porra que a gente chama de circuito brasileiro. Tudo bem que tem cabelo preto, água, espelhos e todos os elementos vistos em Ringu, The Eye e outros, porém com um plus: a cena final, em que finalmente é revelado o tal encosto. Medão. Nota 6,5.

Tiveram a coragem de vir me dizer que esse metidinho Camisa de Força era massa. Ledo engano. Mal-feito pacas, quer ser Amnésia, mas não chega aos pés nem de um O Operário. Pelo visto, temos aí um novo Efeito Borboleta. Nota 5,5.

A Caverna pode ir direto praquele pacote de filmes de férias do SBT. Êita porcaria braba! Os caras se esforçaram pra nos fazer chorar de volta a grana da locação: tudo escuraço, uns sustos muito óbvios, ação dormente, atores recém-saídos de Anaconda 2... Com tudo isso, vocês ainda querem saber do enredo? Bem, dá pra dizer que é uma cópia carbono do ótimo Eclipse Mortal, com Vin Diesel (por si, uma variação de Alien): criaturas que atacam no escuro vão detonando uma equipe de gente enxerida e armada até os dentes. Depois de ver o filme, a vontade que dá é se isolar na caverna mais próxima. De desgosto. Nota 3,5.

Finalmente! Só fui ver Ligações Perigosas agorinha. Meninos, coisa impressionante é o John Malkovich. No auge, no auge da forma! E a Glenn Close, então? E aquela lindeza da Michelle Pfeiffer? E que diálogos dos infernos, e que pulso fiadaputa do Stephen Frears!! Nota 9.

Doom é um bom videogame, dos melhores já lançados. Como videogame e cinema não são sinônimos, não há o que discutir: Doom, o filme, é uma bela bosta. Nota 4.

No fone: Guillemots - "Made Up Love Song"