11/28/2006

Postzão - Parte I

Queridões, eis um primeiro balanço de minhas vacaciones:

Sua vida anda meio sem-graça? Não agüenta mais a mulher enchendo o saco, o chefe besta torrando a paciência, o time que sempre abre as pernas na reta final do campeonato? Pois seus problemas acabaram! Pegue ***alerta! tradução afasta incautos! alerta!*** Como Enlouquecer seu Chefe (1999) e transborde de felicidade. É nada mais, nada menos que a estréia de Mike Judge em celulóide, e olha, descrever o que o pai de Beavis & Butthead fez aqui não é fácil.
O ponto de partida é de uma Sessão da Tarde tipo Quero Ser Grande ou O Mentiroso: rapaz que trabalha numa firma de informática é vítima de um feitiço que o impede de se estressar. Ao contrário do filme do Jim Carrey, que se concentrava na relação pai-filho, o esquema aqui é espinafrar o sistema trabalhista. Logo que começa a falar umas verdades para seus empregadores sem se ligar, o maluco estranhamente cai nas graças deles com sua franqueza. O ritmo das piadas que seguem é insano. O estilo de humor atende a todos os gostos: tem sutileza, humor negro, sarcasmo, humor físico, incorreção política... Impossível não gargalhar, e olha que eu exijo muito de uma comédia. O que são aqueles diálogos, Jesus-Maria-e-José? Certo que ninguém da Academia conferiu, senão era Oscar de roteiro na certa.
Mais: tudo isso protagonizado por um time de atores que parece organizar um churras toda sexta à noite, tamanha a empatia entre eles. Office Space gruda na memória porque todos, eu disse todos os personagens são gozados e interessantes. O vizinho do protagonista, por exemplo, é um pedreiro cabeludo, preguiçoso, taradão e com voz de negão blueseiro, que ouve tudo por trás da parede - e faz questão de comunicar sempre que surge uma gostosa de biquíni na TV. Outras figurinhas são um árabe com tendências terroristas (mas baita cagão) e um hacker nerdzaço, daqueles que sabem tudo que é letra de rap, mas que fecham o vidro do carro sempre que pinta neguinho por perto. Nem a gostosa da Jennifer Aniston consegue embatumar o bolo, até porque aqui ela realiza o sonho de todos nós: esfregar o dedo médio na cara do chefe. Vi-o há quase dois meses, e desde então o filme só cresceu na minha cachola. Pode arriscar, que eu agarântio! Nota 9.

Legal que a carreira de Uma Thurman decolou depois de Kill Bill. Torço por essa guria. Não fosse Tarantino, a moça dos dedos compridos jamais conseguiria trampos de evidência em Terapia do Amor (2005) e Minha Super Ex-Namorada. Quer dizer então que tua tarefa agora é ressuscitar o Kurt Russell, hein, Quentin? Nota 6,5.

Fernando Meirelles anunciou que vai adaptar Saramago. Se depender desse currículo de ouro - Domésticas, Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel (2005) - vêm maravilhas por aí. Nota 9.

Quase nunca vou na prateleira do Romance, até porque os energúmenos lá da locadora acomodam ali Destino Insólito, Showbar e por aí vai. Quando vi Verão de 42 (1972), então, dei uma chance. Filmezinho bonito, rapaz. Nota 8.

Tenho simpatia por quase todos esses que fracassam na estréia e fazem sucesso bem depois, com o boca-a-boca. O Homem de Palha (1974) é um deles. Christopher Lee foi o Drácula em pessoa e mata a pau até hoje, mas aqui periga ter o seu grande papel. Falei que não tô a fim de ver a refilmagem? Nota 7,5.

Meio chato Orgulho e Preconceito (2005). Desta vez não teve Ang Lee nem Emma Thompson pra salvar, né, Mrs. Austen? Nota 6,5.

Agiota desonesto cria que nem cachorro, desde pequeno e de coleira e tudo, um japa no porão. Acreditem ou não, esta é a história de Cão de Briga (2005). Óbvio que não foi um plot desses que me atraiu, nem mesmo Jet Li, que sempre diverte. O fato é que o diretor é um tal Louis Leterrier... do novo Hulk! Cuida bem do verdão, cara. Tô nos teus bico! Nota 6,5.

O ano vai acabando e nos faz tirar algumas conclusões. Uma delas é o altamente bem-vindo revival do slash terror, por mãos de trintões que cresceram vendo muita VHS mofada em casa. Seres Rastejantes (2005) é o tipo de filme que eu teria orgulho em dizer que fiz. Quem roteiriza a belezinha é James Gunn, do muito-legal-mesmo Madrugada dos Mortos. O cara resolveu assumir a direção e coalha de referências esse Slither; todos os personagens têm nome ou sobrenome de lendas do gênero (Hooper, Carpenter, Romero) e muita cena é chupada de material alheio (Noite dos Arrepios, Alien, A Noite dos Mortos-Vivos). Outro presentão é a presença de Michael Rooker, um dos melhores atores B ever (quando é que chega Henry: Retrato de um Assassino em DVD?), numa atuação que vai do emotivo ao gore em questão de segundos. Diversão garantida, ou sua locação de volta. Nota 7,5.

Lá pela meia-hora de Despertar dos Mortos (1978), George Romero parece acordar pra vida e dizer “bem, vou fazer um filmaço!”. A partir daí o nível de sanguinolência, que já não era brincadeira, atinge níveis inimagináveis, com muitos closes de músculos e vísceras sendo arrancadas a dentadas e unhaços. Punk como a gente gosta. Amigo meu lá do jornal, do alto de seus 40 e poucos anos, veio dizer que na época que viu no cinema a galera ficou semanas sem comer carne... A trilha e os planos elegantes são coisa de um Kubrick ou Bergman (não, eu não estou exagerando) e os dublês também merecem aplausos (as crianças mortas-vivas convencem na hora que o pau come, um zumbi tem a tampa da cabeça arrancada pela ação de uma hélice de helicóptero, outro pobre-coitado leva um safanão e dá de cara numa moto... em movimento). Um sangrento superespetáculo. Nota 9.

Me criei vendo O Enigma de Outro Mundo (1982) na Sessão da Tarde, mas minhas poucas memórias dele eram muito gelo e a cabeça andando com perninhas de aranha. Como é que passavam todas aquelas nojeiras nesse horário? Nota 8,5.

Outro cráááássico da Sessão da Tarde foi Viagem Fantástica (1966). A cena final, em que os miniaturizados escapam de dentro do corpo através da lágrima do pobre-coitado, não dá pra esquecer. Nota 8.

Sabia que O Homem dos Olhos de Raio-X (1967) tinha Ray Milland no elenco e tal, só não lembrava que era do Roger Corman, o bisavô dos cineastas independentes. Só ele mesmo pra filmar aquele final incômodo e muito trash. Nota 8.

A grande atração de O Corvo (1963), tirando o embate Boris Karloff x Vincent Price, é um Jack Nicholson em vestes de soldado imperial e com cabelo esvoaçante. Mais um clássico de Corman. Nota 8.

Antes de virar o grande astro de ação dos sixties, Steve McQueen estrelou A Bolha (1958). Um canastrão, diga-se. O filme nasceu terror e virou comédia, e diverte por isso. Nota 7.

Ainda inédito em DVD e uma missão impossível para achar em fita de vídeo, Quadrilha de Sádicos (1977) perdeu um pouco do impacto original. Vi piratão mesmo, sem legendas e pela primeiríssima vez na vida. Posso estar falando bobagem, mas achei o remake melhor, mais tenso e bem escrito. Mesmo assim, Wes Craven em estado bruto é melhor que toda essa merda que tá aí. Nota 8.

Pânico na Montanha (2004) é mais um média-metragem da série Mestres do Terror, desta vez dirigido por um tal Don Coscarelli. Mestre ele não é. Nota 5,5.

Já Takashi Miike é sim, um mestre. Marcas do Terror (2004), sua contribuição para a série da HBO, teve a exibição vetada na última hora pela emissora americana. Acharam muito pesado pros padrões deles. Queriam o quê? Algo insosso, inodoro, indolor? Que contratassem a equipe de Jogos Mortais, pois! Imprint é o horror em sua forma mais pura e poderosa, com direito a uma cena de tortura niilista pra caralho, marcante, hipercinética. Por que é tão difícil que a filmografia desse cara chegue até nós? Nota 8.

O Novo Mundo (2005) é um dos melhores filmes do ano. Ponto. Nota 8,5.

Quem achou que Spike Lee fosse abandonar seus comentários sociais para dedicar-se à ação non-stop em O Plano Perfeito (2005), enganou-se. Uma cena resume bem isso, quando um refém sikh, de barba e turbante, ganha umas porradas da polícia - ao ser confundido com um árabe, ele desperta o receio de um ataque terrorista. É o toque pessoal de alguém que transforma o que poderia ser mais um thriller inócuo numa obra espirituosa. Nota 8.

Loiríssima, ameaçadora e quase sempre pelada em cena, Sharon Stone deve ter quebrado o recorde mundial em homenagens no banheiro depois de Instinto Selvagem. Agora, quase 15 anos se passaram e em IS2 (2006) Sharon já não tá assim-assim. Continua charmosa, mas o corpo é de quem pegou praia, botox e bisturi demais. Suas caras e bocas ultrapassam a fronteira do ridículo; parece atuar sempre à beira de uma gozada. Ainda trocaram Michael Douglas, um cara que poderia comer uma árvore (no mau sentido), praticamente o Zé Mayer deles, pelo inexpressivo David Morrissey. E se cinemão com cenas picantes virou clichê, nem isso o filme tem, com muito roteiro para pouco sexo. Os ares são de um Cine Privê de luxo, para ver apertando o forward no controle. Nota 5.

Não faço muita questão de me envolver com esses mistérios de Lost. Sou nerd o bastante para partir em busca de outros tipos de cultura inútil, algo que não me faça entrar em grupos de discussão com uma cambada de viciados em chips e cherry coke. A 1ª Temporada (2004) é legal, com todos seus altos e baixos. Vou continuar acompanhando, mas que é muita punheta, isso é! Nota 8.

Ultravioleta (2005). Aaaaaaaargh! Meus olhos, não consigo enxergar! Nota 3.

Atom Egoyan não exibe em Verdade Nua (2005) metade do talento mostrado em O Doce Amanhã. Será ele um enganador? Só o tempo dirá. Por outro lado... Kevin Bacon, sempre bem. Colin Firth, boas caras de tarado. Alison Lohman, apetitosa (já tem 18?). Nota 6.

Adorei A Lula e a Baleia (2005). Roteiro saboroso, dupla central despida de estrelismos (Laura Linney safaaaada, Jeff Daniels em luminoso momento Bill Murray), trilha bizarra. Um dos poucos filhotinhos de Wes Anderson que deram certo. Filmão. Nota 8,5.

Bonecas Russas (2005) dá seqüência às aventuras de O Albergue Espanhol. É cinema europeu jovem, sem grandes afetações ou aspirações. O original já não era grande coisa. Veja, se o tempo for seu amigo. Nota 7.

Só o fato de ambientar uma história de amor nos escombros da bomba atômica já daria a Hiroshima Mon Amour (1959) todo o nosso respeito. E o Resnais ainda vai lá e faz uma obra fodida de boa, cheia de símbolos e idas e vindas no tempo. Como muitos filmes de arte, jamais será inteiramente apreciado e entendido. Não consigo imaginar o público de Páginas da Vida assistindo isso. "Sensorial" é a palavra. E que fim deu Emanuelle Riva, hein? Grande atriz, a moça. Nota 8,5.

Michael Mann, um grande diretor à procura de um bom roteiro. Miami Vice (2006) entretém, empolga e ao mesmo tempo desaponta por não trazer mais sustância para nós, fãs de Coppola e Scorsese. Nota 7,5.

Vôo United 93 (2006) é trepidante do início ao fim. E que fim! O grande feito de Paul Greengrass foi mostrar que o heroísmo do vôo foi simplesmente entrar em pânico e tentar sobreviver. Ele põe a platéia no meio de toda aquela algazarra no avião e a faz enxergar a morte bem de pertinho. O mais eficaz simulador de vôo da história. Sabe quando a gente sai do cinema com as pernas bambas? Pois é. Nota 8,5.

Bem mais apelativo, As Torres Gêmeas (2006) tem coisas como Nicolas Cage gritando "rrrruuuuuuuunnnnnnn...!" em câmera lenta, marines obstinados vindo de longe para salvar os bombeiros, crianças e esposas se esvaindo em lágrimas e por aí vai. São cacoetes Rambo-Michael Bay que não combinam com o tema delicado. E menos ainda depois de Team America, né, seu Stone? Nota 7.

Desculpaí a heresia... mas tem dias que a gente não devia ir ao cinema. Entrei na Casa de Cultura com a certeza absoluta de que ia amar Cinema, Aspirinas e Urubus (2005). Não foi isso o que a noitada anterior permitiu. Pronto, já pode me bater. Nota 7,5.

Abismo do Medo (2005) vai me obrigar a seguir cada passo do diretor Neil Marshall (que já tinha feito bonito em Dog Soldiers). Terrorzinho fodido! Nota 8,5.

Raras vezes se viu um filme que dividisse tanto assim as opiniões quanto Dália Negra (2006). É um Brian De Palma exagerado como nunca. Com pelo menos duas cenas acima de qualquer crítica: a descoberta do cadáver e a morte de um dos personagens centrais na escadaria. De tirar o fôlego. Nota 8.

Todo Mundo Quase Morto (2004) tem humor e inteligência por todos os lados, personagens bem compostos, roteiro impecável e um desfecho capaz de levar o público ao delírio. É muito difícil exigir mais de um filme do que o que encontramos aqui. Mande uma banana pro título imbecil que Shaun of the Dead ganhou no Brasil, corra atrás e tenha aquele orgasmo múltiplo que você sempre sonhou. Ele é assim de bom. Comprei e vou ver todo ano. Quer, eu te empresto. Nota 9,5.

Míseros R$ 9,90 por Ghost World (2001) numa banca de revistas no centrão de Porto Alegre. Sorrindo até agora. Nota 8.

O ritmo de piadas de Friends é tão insano que me deixa extenuado. Estou certo que deixei de pescar algumas piadas ótimas da 4ª Temporada, porque tem uns episódios que fundem a cuca de tanta graça. Será seqüela? Nota 8,5.

Dá raiva ver subprodutos sem alma como Gatão de Meia-Idade (2005) ganhando espaço de luxo num circuito repleto de produções brasileiras interessantes que permanecem sem distribuidor, e que certamente teriam alcance igual ou bem maior que lixos como este. O enredo é baseado nos quadrinhos de Miguel Paiva e podia render algo divertido mas, oh Deus, não é isso o que a gente vê na tela. Alexandre Borges se esforça pra viver Cláudio, um quarentão solteiro e galinha que começa a sentir o peso da idade. Ri-se justamente da pior coisa que pode acontecer a uma comédia: a falta de graça. As situações são dignas daquelas pornochanchadas do Canal Brasil, com direito a nudez gratuita, uma trilha sonora insuportável e diálogos de uma patetice só. O pior filme de 2006 já tem nome - isso enquanto não sai o novo da Xuxa. Nota 2.

O Mestre da Guilhotina Voadora (1975) é daqueles que te fazem urrar de prazer de tão excêntricos. Podia ser rebatizado para A Batalha dos Inválidos ou algo do tipo... em que outro filme você vai ver o herói sem um braço saindo na porrada com um vilão que é cego? O roteiro praticamente não importa, cedendo espaço para as lutas absurdas. É gente caminhando pelas paredes, se equilibrando em pontas de espadas e espichando as mãos como o Dhalsim do game Street Fighter II. E foi daqui que Tarantino tirou a cena de Gogo e sua arma mortal, numa das cenas mais afudê de Kill Bill. Podreira das boas. Nota 8,5.

No fone: Grizzly Bear - "Easier"

3 comentários:

MOVIEMAD disse...

ah não, depois da Guilhotina Voadora... tu te passou né? Pobre Mônica!! hahaahha

Penkala disse...

Fernando, Fernando, já te disse que tu é um dos melhores faladores e escrevedores de cinema évah? pois é.

e onde diabos tu comprou Ghost World por 9 pila, tche? que merda que eu não acho barbadinhas dessas, caraleo!

Anônimo disse...

pobre de mim é pouco... ando sofrendo muito nestes últimos meses, ainda mais depois de comentários como este hahahaha ENORMEEEEE
bjo meu amooood
lovi ainda viu?