1/31/2006

Exillados


Se me perguntarem qual é o maior nome do cinema nacional hoje, entre atores, diretores, roteiristas, iluminadores e o cara que bate a claquete, digo sem pestanejar: Walter Carvalho. É dele a fotografia de Terra Estrangeira, que vi em casa ontem à noite, estupefato. E de Lavoura Arcaica. E Central do Brasil. Abril Despedaçado. Amarelo Manga. Madame Satã. Cazuza. Carandiru. Janela da Alma. Gênio. Nota 8.

No fone: Bloc Party - "Banquet"

Suspans!

Depois da confirmação de Brokeback Mountain como favorito ao Oscar, acho que a grande expectativa da noite de 5 de março vai ser se o debilitado Robert Altman consegue ou não subir ao palco pra receber essas migalhas que eles chamam de "prêmio honorário".

No fone: Arctic Monkeys - "From the Ritz to the Rubble"

1/30/2006

Sixties

Enquanto a Mônica se divertia horrores com o repertório mágico da Ivete Sangalo, sábado à noite, lá estava eu em casa envolto com dois quarentões. Ops, dois filmes, porras! Pois é, coincidência ou não, ambos são de 1966 e carregam consigo alta carga de pop-art. Tirei o Zorra Total pra Engov cerebral antes da sessão dupla, mas nem precisava; o japonês acabou descendo mais redondo que a Skol dos bons tempos. Já o Antonioni...

Sou um cara dos mais pacientes, mas Michelangelo Antonioni me deixa com o crânio exausto, saindo fumacinha. Dele, só tinha visto Zabriskie Point na TV a cabo e na época, apesar de não entender muita coisa, teve lá a sua graça. Arrisquei agora Blow Up - Depois daquele Beijo, tida por muitos como a obra máxima do "poeta do tédio" (não sou eu quem diz!). O ritmo é leeeeeeeeeeeento, leeeeeeeeeento, leeeeeeento, e a linguagem recheada de simbolismos só contribui pra gente ficar se remoendo na poltrona. Um porre - mas bacanão por antecipar, em plena era do liberalismo, a presente idéia coletiva de que sexo, drogas e rock'n'roll podem ser assuntos mais interessantes que a morte de alguém. A edição da cena em que se descobre o assassinato é genial, os Yardbirds quebrando uma guitarra ficou massa, mas o melhor de tudo é a Vanessa Redgrave sentada no sofá, fumando um e curtindo um jazz. Mesmo assim, ainda sou mais o Blow Out do De Palma. Nota 7,5.

Se o mundo aprendeu a cultuar Akira Kurosawa, é bom lembrar que faz uma cara que o Japão produz outros bons nomes de cinema. Não conheço muitos deles, já aviso de antemão; mas, se depender de descobertas como esse Seijin Suzuki, vai valer a pena tentar. Se lá fora o homem é veneradaço, aqui no Brasil ninguém dá um tostão furado por ele. Seu ultracool Tóquio Violenta é um Kill Bill da era paleolítica. Cinemático ao extremo, Tokyo Nagaremono/Tokyo Drifter tem diálogos espirituosos, muita ironia, óculos escuros, engravatados de espada na mão, tema musical com assobios, e ainda toca um pa-para-para-pááá! quando os personagens aparecem. É mais do que óbvio que o Quentin ama esse aqui. Puta surpresa. Nota 8,5.

No fone: Sigur Rós - "Hoppíppola"

1/27/2006

Drácula & Disney

O gigantesco Christopher Lee foi descoberto pelas novas gerações por causa de seus vilões em Star Wars e O Senhor dos Anéis. A gurizada, porém, nem sabe que o tiozão de voz grossa e presença imponente tornou-se um ícone do cinema fantástico há quase meio século, interpretando o vampiro de Bram Stoker numa série de clássicos da inglesa Hammer. O Vampiro da Noite (The Horror of Dracula, 1958), a estréia de Lee como o príncipe das trevas, marcou época. Foi o primeiro filme de vampiro em technicolor, onde o sangue aparecia vermelho e não preto, como nos clássicos de Bela Lugosi. A produtora resolveu também enfatizar a violência e o erotismo (a mulherada anda pra cima e pra baixo de camisola), e ainda pôs como contraponto de Lee outro grande anti-herói do terror, Peter Cushing, no papel de Van Helsing (!). Que duplinha...! O produto final me lembra aqueles antigos gibis que eu costumava comprar na banca, tipo Calafrio e Mestres do Terror. Ah, a nostalgia... Nota 8.

Procurando Nemo e Vida de Inseto são fofinhos, Monstros S.A., Toy Story e Os Incríveis hilariantes, mas não é qualquer Pixar ou época que são capazes de soltar um Bambi nas telas. Desenho clássico é isso aí. Aluguei o querido veadinho pro Gustavo ver, todo bobão mostrando a caixinha pra ele, "olha o Bambi! olha o Bambi!" e o que o guri me faz? Não agüenta nem 15 minutos de filme. Ele deve ser muito pequeno ainda. Deve ser isso. Só pode. Quem acabou vendo fui eu, pela milésima vez. E a nota dele, ora bolas, só pode ser essa aí. Nota 10.

No fone: Sufjan Stevens - "Prairie Fire that Wanders About"

1/26/2006

Duelo em P&B


Fazia tempos que eu não me dedicava a isso... Fui dormir lá pela meia-noite e coloquei o despertador pras 2h45min. O motivo? Ia passar O Que terá Acontecido a Baby Jane? (1962) no SBT. Incrível como a mesma emissora que possui Analice Nicolau, Sonia Abrão e Ratinho em sua folha de pagamento consegue nos fazer ficar de olho vivo num clássico dessa magnitude. A maior atriz de cinema que já pisou nesse planeta estrelando o maior terror psicológico da história, raro em DVD em VHS? Querem outro motivo melhor pra ficar o dia inteiro de zumbi?
Com tudo isso em vista, nem dei bola pra coisas como olhos ardidos, dublagem e intervalos comerciais... O fiapo de trama - mulher invejosa atormenta a vida de sua irmã paralítica, que fora uma top movie star no passado - é o fio combustível para que a Bette deite e role em cima da pobre Joan Crawford. Com essas duas em ação, até a leitura da lista telefônica ganha emoção. O bacana é que os diálogos estão à altura das duas atrizes, que, reza a lenda, eram arqui-inimigas na vida real (fofoquinha: Crawford era casada à época com o presidente da Pepsi; Davis, então, mandou colocar uma máquina de Coca no set. Genial ela, não?).
A cena em que Baby Jane 'que personagem!' Hudson serve um rato de bandeja à outra ficou célebre, mas há muitas outras seqüências antológicas, como esta aí à esquerda. Do início com a mimada criança-prodígio ao final arrebatador à beira da praia, em que Bette rodopia loucamente enquanto segura dois sorvetes de morango, Baby Jane é brilhante. Brilhante.
Que venha a próxima sessão de TV. Nota 10.

No fone: Nação Zumbi - "Nebulosa"

1/25/2006

Ishpérrtu


Não adianta: o diretor Don Roos não é Paul Thomas Anderson, muito menos Robert Altman. Prova disso é esse Finais Felizes, um caleidoscópio de personagens com uns conflitos até que interessantes, mas que não conseguem nos cativar e acabam nos empurrando num precipício de aborrecimentos. Lá pelo final dos 128 minutos, a gente torce pra que todos eles se explodam duma vez. Meu amigo, êita coisa chata! O elenco até tem uns caras esforçados (Maggie Gyllenhall sempre ótima, Lisa Kudrow chega a mostrar o peitinho, Tom Arnold fazendo caras e bocas na hora do sexo... mas aquele cover de Colin Farrell era de doer!). Pena que Roos não se esforce muito pra não parecer manipulativo - aquelas legendas verticais nada mais trazem do que informações fúteis ou meramente engraçadinhas. Acaba sendo uma experiência sensitiva (dá pra engolir o visual moderninho) mas oca, fria e auto-indulgente até a raiz. Nos letreiros finais, achei que ia tocar aquela "todo muuuuuuundo gosta de MIM!" da novela das oito. Blé! Nota 5,5.

No fone: Sufjan Stevens - "Illinois"

Pennies from Heaven


Goodbye, Nice Guy Eddie.

No fone: Maximo Park - "Graffiti"

1/24/2006

Um viva à Continental!

Nunca consegui topar de frente com o faroeste Pequeno Grande Homem (1970). Sempre perdi as sessões na TV e jamais o encontrei nas locadoras daqui. Admiro pacas a filmografia de Dustin Hoffman, especialmente no período mágico dos anos 60 e 70, quando fez coisas como A Primeira Noite de um Homem, Perdidos na Noite, Sob o Domínio do Medo, Papillon, Lenny, Maratona da Morte, Todos os Homens do Presidente, Kramer vs. Kramer... O cara não errava uma!
Pois finalmente achei o Little Big Man semana passada, recém lançado pela Continental Home Video. A distribuidora é vagabundaça (os DVDs quase não oferecem extras, o áudio é 2.0, as capinhas são piores que ilustração de trem-fantasma), mas só este ano já colocou nas prateleiras O Encouraçado Potenkim, Os Sete Samurais, A Grande Ilusão... e aquele lá embaixo!
O filme na verdade não chega a ser um western com todas as letras; é mais um drama ambientado no Velho Oeste. Há também comédia, sexo, aventura, suspense, em suma, todas as variações de gênero que caracterizavam as películas do diretor Arthur Penn (Bonnie & Clyde era um thriller de gângsteres num minuto, e noutro uma comédia rasgada). O ponto de partida de Pequeno... já é fascinante: num hospital, um senhor de 121 anos de idade (interpretado pelo próprio Hoffman, sob pesada maquiagem) relata a um jornalista a trajetória de sua vida, desde a vivência entre os índios cheyennes até seu retorno à civilização e posterior crise de identidade. Chief Dan George, indicado ao Oscar de coadjuvante, e Faye Dunaway compõem personagens cativantes. Mas é Hoffman quem comanda o espetáculo. Nessa época ele ainda mostrava disposição para marcar terreno como o brilhante aluno do Actor's Studio que sempre foi. Uma pena que a indústria do entretenimento foi tão mal-agradecida com o seu talento, hoje restrito a bobagens como O Júri e Entrando numa Fria Maior Ainda. Nota 8,5.

Já John Woo é um dos maiores exemplos de como Hollywood pode foder pra valer com um talento internacional. Desde sua ida à América, o cara só fez uma fita realmente boa (A Outra Face), e desde então só patinou feio (Códigos de Guerra, O Pagamento), arranhando para sempre sua aura de mestre de ação. Acho o seu Fervura Máxima (Hard-Boiled, 1992) um dos cinco mais bombásticos filmes de ação já feitos, mas The Killer - O Matador (1989) é tão bom quanto. Daquele tipo de filme que muda os conceitos de muita gente, pois, por mais que alguém odeie fitas de ação orientais, não há como passar imune a tanta energia e criatividade (alguns diriam insanidade), ultrapassando as limitações de um orçamento nitidamente modesto. É para assistir e virar fã - como Tarantino, que logo depois chamou o chinês para dar uns toques no roteiro de sua estréia, Cães de Aluguel. O resto, como se sabe, é história. Nota 9,5.

No fone: Nancyta e os Grazzers - "Capas de Celular"

1/20/2006

Riso nervoso


Finalmente entendi por que meu amigo Vlad Vargas escolheu o Dogma 95 como tema do TCC. Festa de Família demonstra na tela tudo aquilo que foi expresso no manifesto, ou seja, histórias narradas com a câmera (digital) na mão, sem uso de música, com interpretações naturalistas e imagens captadas de forma crua, aparentemente sem produção ou luz. Adicione a isso altas pitadas de humor negro e uma riquíssima matéria-prima humana, e o resultado é uma genial, ácida e tensa dramédia - captada em vídeo mas um CINEMA infinitamente superior a qualquer centena de filmes cuidadosamente fotografados em película Kodak e revelados nos mais caros laboratórios de Hollywood. Quem ainda não viu, é bom descobrir - mas rápido, antes que as traças avancem! Nota 9.

No fone: Razorlight - "Golden Touch"

Sessentão


Parabéns, garotão!

No fone: The Shins - "Caring is Creepy"

1/17/2006

SexyBT


Se depois daquela transmissão do Globo de Ouro em formato TV Pirata o Silvio Santos não botar a Analice pra rua, essa história só pode terminar em casório. A mina só levou nos dedos - todas bem dadas pelo meu ex-ídolo Rubens Ewald Filho. Que é outro que vou te contar... Deus do céu, só gafes.

No fone: Snow Patrol - "Spitting Games"

1/13/2006

"Mata ele, mamãe!"



Uma felicíssima sexta-feira 13 a todos!!

No fone: The Breeders - "Drivin' On 9"

1/12/2006

Cronenba


Quem achou o máximo a rapariga saindo da TV no horroroso O Chamado claramente nunca viu Videodrome. Como qualquer Cronenberg, tudo neste terror lembra um filme B: há mutilações corporais, metamorfoses, realidades paralelas e virtuais, personagens estereotipados... Na contramão, temos a profundidade e a ousadia que poucos diretores têm cacife para mostrar em 85 minutos de película, condensados numa viagem psicodélica aos confins da loucura, uma verdadeira experiência-limite sobre a ação da televisão sobre a mente humana (isso num longínquo 1983!). Visual e intelectualmente estimulante, Videodrome é um filme-tese muito à frente de seu tempo.
...Estranho, agora cheguei a lembrar de MacLuhan e um professor chato da faculdade. Nota 7,5.

No fone: Renaissance - "Ashes are Burning"

1/11/2006

Cinquinho


O Jardineiro Fiel. Já tinha perdido as esperanças de vê-lo no escurinho, mas eis que surge um Cine Dunas pra saciar a imensa curiosidade de conferir o meu xará em versão big budget.
Vamos combinar que esses thrillers político-investigativo-internacionais estilo O Americano Tranqüilo nunca me chamam muito a atenção, acho uma chatice; é tipo sentar, se deixar envolver por mais de duas horas (sempre!) e abrir a porta do cinema já preocupado se o cachorro fez ou não cocô na sala enquanto tavas fora. Até o último sábado, nenhum título desse gênero tinha conseguido me passar algo orgânico, humano, emotivo. Mas o nosso Meirelles, mesmo tendo que conviver com coisas como falar outra língua, driblar orçamentos e atender exigências de produtores e um batalhão de gente que nunca viu mais gorda, consegue imprimir justamente isso à trama: humanidade.
É um trabalho embasbacante, mesmo. Bobagem querer compará-lo a Cidade de Deus, embora o assunto guarde parcas semelhanças (tráfico de drogas = laboratórios farmacêuticos. Não?). Temos aqui Ralph Fiennes mandando ver em seu grande papel desde o Schindler, César Charlone provando que já pode encomendar a patente de sua eletrizante assinatura visual, mais uma linda trilha sonora do colaborador habitual de Almodóvar, Alberto Iglesias... E a Rachel Weisz ainda faz um personagem cativante! É ou não é um feito de se aplaudir em pé, e de muletas? Nota 8,5.

Só fui ver agora sexo, mentiras e videotape . Vergonhoso, não? Interessante perceber que, depois desses anos todos na ativa, James Spader é mesmo um dos mais subestimados atores do cinema contemporâneo. Nota 8,5.


Outro que deixei passar na época do lançamento foi O Profissional. Nunca pensei em entrar pro fã-clube do Luc Besson, mas depois desse é bem possível que eu crie um aqui em Rio Grande. Tá, não é pra tanto... Nota 8,5.

Tesis - Morte ao Vivo eu conheci há uns cinco anos, sintonizei-o quase dormindo num desses Intercines da vida. Ele já tinha até começado, e obviamente dublado (Deus e Mônica, pelo menos, sabem o quanto abomino essas duas coisas), mas naquela noite me agarrou e não largou mais. Fui redescobri-lo há uns dias, na prateleira mais obscura de uma locadora tomada pelas areias cassinenses. O filme fala de snuff movies (aqueles vídeos caseiros em que as pessoas se torturam e matam em frente às cameras. Assunto legal pacas) e é dirigido por ninguém menos que Alejandro Os Outros Amenábar, ainda em sua fase espanhola. É tudo aquilo que 8mm quis ser mas, graças à notória imbecilidade de Joel Schumacher, não conseguiu. A segurança narrativa do então estreante é de pôr no chinelo qualquer Roland Emmerich da vida. Mas Tesis ainda tem cenas encagaçantes (o uso do som é exemplar), boas atuações (o estudante fissurado em trash é de morrer de rir) e um desfecho satisfatório. Coisa rara num suspense, seja ele multimilionário ou de fundo de quintal - como é, e que bom, o caso deste filmaço. Nota 8.

Que Roman Polanski é uma lenda viva qualquer noguinho sabe - entretanto, por deixar passar as velharias dele na era do VHS ou continuar morando no fim do mundo, ainda conheço pouca coisa do polonês. Só tinha visto O Bebê de Rosemary, Chinatown e O Pianista, uma trinca que beira a perfeição. Esse trio acaba de virar quarteto: Repulsa ao Sexo (1965) é pesadaço, claustrofóbico, surreal, a esquizofrenia em sua plenitude. Uma quase obra-prima.
A historinha, a gente conta em duas linhas: Catherine Deneuve, linda, loira, virgem e perturbada, simplesmente não tem vontade de dar pra ninguém e, trancada em seu apartamento, aos poucos começa a ficar pinéu de vez. Que mais posso dizer? Rico em nuances, Repulsion continua sendo um dos mais importantes filmes dos sixties, simplesmente por ir contra a maré de liberalismo que se iniciava na década. Em pouco mais de 100 minutos de projeção, penteados, minissaias, carangas envenenadas e uma daquelas trilhas sonoras da época, com flautinha feliz e tudo, travam um embate em p&b com navalhas, gente depressiva, estupros e comida apodrecendo.
Vovô Polanski vem aí com Oliver Twist, mas o que eu quero mesmo dele é Faca na Água (1962), A Dança dos Vampiros (1967), O Inquilino (1976)... Mais cedo ou mais tarde eles vêm. Tomara. Nota 9.

No fone: The Rakes - "Violet"

1/05/2006

PQP pro ID4


Ontem à noite também revi Guerra dos Mundos. Não adianta, curti mesmo e acho que merece uma revisão. Tudo bem que o Tom Cruise interpreta o Tom Cruise pela enésima vez, mas o que o Spielberg faz aqui não é brincadeira. O filme tem um quê de raivoso e um ar retrô que me fazem lembrar alguma coisa dos 70's dele (vai me dizer que a cena do lago não é fodona?). É difícil imaginar que as filmagens duraram pouco mais de dois meses. Que takes, que câmera! Nota 8.

No fone: Arctic Monkeys - "A Certain Romance"

Bom começo

Dá tempo ainda de encaixar uma coisinha naquela lista lá de baixo? É que, porras, só fui achar agora esse Contra a Parede... E ele é uma coisinha mesmo: atores naturalíssimos, câmeras com velocidade alterada, sangüeira, bate-papos espirituosos, roteiro pra soltar um "puta que pariu!" a cada dez minutos... Tudo que o demonho gosta! Nota 9.

No fone: Guillemots - "Made Up Lovesong 43"

1/02/2006

Top Ten 2005 - Discos

O ano que terminou sábado foi um dos melhores para a música pop, especialmente no quesito diversidade. Tivemos novidades de grandes bambambãs (Beck, Oasis, White Stripes), a Velha Guarda do rock (Rolling Stones, Paul McCartney, Neil Young, Eric Clapton, Bruce Springsteen), muitas revelações (Arcade Fire, Bloc Party, Futureheads, Kaiser Chiefs) e trabalhos solo de qualidade (Stephen Malkmus, Billy Corgan, Frank Black). Entre os nacionais, ser independente virou sinônimo de prezar pela liberdade de criação e ter controle de todo o processo de gravação. Mas o negócio aqui é mostrar o que de melhor a indústria fonográfica e os programas de download de música nos apresentaram nos últimos doze meses. E que se fodam Charlie Brown Jr. e Jota Quest.

INTERNACIONAIS


1. The Arcade Fire - Funeral. Eles foram capa da Time, precisa mais do que isso? Então vá lá: o maravilhoso octeto canadense tem em Funeral pelo menos cinco ou seis músicas de chorar, gravou single com David Bowie, fez um dos maiores shows que Porto Alegre irá presenciar, esteve na trilha sonora de Six Feet Under... Tudo bem que Funeral é de 2004, mas o Brasil e o resto do mundo só foram descobri-los meses depois. Os artistas do ano, sem sombra de dúvidas.

2. Queens of the Stone Age - Lullabyes to Paralyze. Pode até ser o trabalho mais fraco da carreira dos caras, que já entregaram pelo menos um clássico definitivo (Songs for the Deaf, de 2003). Mas eles são como pizza, sexo e Woody Allen: mesmo quando são ruins, são bons. Ou melhor, ótimos. Baixe, compre, pegue emprestado: tem que ter.

3. Stephen Malkmus - Face the Truth. O terceiro trabalho solo do ex-vocalista do Pavement é um ensolarado tratado sobre como teclados, sintetizadores e outras bugigangas eletrônicas, quando bem orquestrados, podem render arranjos maravilhosos. O clima retrô que percorre os 42 minutos de Face the Truth é dos mais sedutores que um estúdio de som pode render. Malkmus é do bem.

4. Weezer - Make Believe. Os "fãs" torceram o nariz para o último trabalho da mais influente banda indie do mundo. "Eles estão muito pop", foi a crítica que mais se leu por aí. Mas, que diabos, qual o problema nisso? Só "Damage in your Heart" já vale o disco. E quem viu o show deles em Curitiba não teve do que reclamar: o Weezer é rock e pronto!

5. Franz Ferdinand - You Could Have It So Much Better. Os escoceses não tomaram conhecimento do teste do segundo disco, mostrando cancha para conquistar o mundo ao lapidar vários clássicos instantâneos: "Do You Want", "The Fallen", "You're the Reason I'm Leaving", "Walk Away"... No Brasil, vão abrir a turnê do U2. Num mundo justo, seria o contrário.

6. The White Stripes - Get Behind Me Satan. Os Stripes nunca foram a última Coca-Cola do deserto. A baterista Meg White é a pior que se pode imaginar, e a voz estridente de Jack lembra por demais a de Robert Plant. Mas que eles são craques em fazer grandes álbuns, isso ninguém pode negar. Este aqui foi todo gravado com equipamento analógico e é um dos mais coesos da dupla.

7. Oasis - Don’t Believe the Truth. Eles são marqueteiros. São encrencões. São mascarados. Mas, se o próximo disco tiver um punhado de músicas tão bacana quanto este, os irmãos Gallagher estarão perdoados para todo o sempre.

8. System of a Down - Mezmerize/Hypnotize. O trabalho duplo da maior banda pesada desde que o Metallica resolveu tomar um banho de loja foi dividido em seis meses. A ânsia foi recompensada com aquilo que se esperava: uma obra de raiva, velocidade e que transpira musicalidade e inspiração. Cada uma de suas 23 faixas tem vida própria. Heavy metal é com eles.

9. Supergrass - Road to Rouen. Rock'n'roll sem firulas? Não é mais com o Supergrass. Com este álbum, o power trio inglês mostrou sua capacidade em criar melodias sofisticadas e provou que os tempos juvenis de "Alright" estão a anos-luz de distância artística.

10. Daft Punk - Human After All. Entra ano, sai ano, e a música eletrônica sempre consegue arranjar um espaço entre os dez mais. O Daft Punk saiu na frente do arquiinimigo Chemical Brothers e lançou este quase perfeito "Human After All". Com seus pouco mais de quatro minutos, "Technologic" é o retrato de uma geração. Daqui a uns 20 anos, o mundo talvez descubra isso.

Faltou lugar:
Death Cab for Cutie (Plans), Bloc Party (Silent Alarm), Foo Fighters (In Your Honor), Chemical Brothers (Push the Button), Paul McCartney (Chaos and Creation in the Backyard), The Coral (The Invisible Invasion), Brendan Benson (The Alternative to Love)

NACIONAIS


1. Los Hermanos - 4. Não adianta, eles são mesmo diferenciados. Depois de duas obras-primas seguidas (Bloco do Eu Sozinho e Ventura), os cariocas se superaram com um disco difícil, elegante, maduro, daqueles em que os silêncios às vezes falam muito mais que notas musicais. Mais uma vez renegaram o passado recente e, ao trilhar o caminho mais difícil, acabaram perdendo muitos admiradores - mas 4 tem todos os elementos para se tornar um clássico. E aí, já ouviu?

2. Cachorro Grande - Pista Livre. A gauchada fechou contrato com a Warner, juntou uns trocados, foi gravar em Abbey Road e entregou um discaço. Bem melhor produzido que os dois anteriores, é um atestado de que é possível ser autêntico na música mesmo utilizando elementos vistos como obsoletos. E foi o ano em que os gaúchos finalmente aconteceram: mudaram de mala e cuia para São Paulo, foram no Jô, ganharam as rádios rock e mostraram seus elogiados (e ensangüentados) shows no centro do país. Bem ou mal, é onde a coisa acontece.

3. Nação Zumbi - Futura. Chico Science já se foi há sete anos. Mas, a cada nova bolachinha prateada, sua banda de apoio mostra que sabe caminhar com as próprias pernas. Na verdade, eles correm a valer. E em busca de um único objetivo: soar como a banda com o instrumental mais poderoso do país.

4. Tom Zé - Estudando o Samba. Quase setentão, o maior exemplo de gênio incompreendido da MPB nunca recebeu os mesmos louros de Caetano e Gil. Os grandes trabalhos destes, porém, a gente conta nos dedos. Para Tom Zé, é preciso usar as duas mãos.

5. Cidadão Instigado - Cidadão Instigado e o Método Tufo de Experiências. O cearense Fernando Catatau é o maior guitarrista de sua geração. Fernando quem? Pois é, está na hora de o Brasil conhecer esse cara.

6. Walverdes - Playback. Porto Alegre é mesmo uma das capitais tupiniquins do rock. O recém lançado Playback traz, no mínimo, a mais violenta canção nacional do ano: "Seja Mais Certo". E eles moram aqui, bem pertinho. Sorte nossa.

7. Faichecleres - Indecente, Imoral & Sem-Vergonha. Um estado de excitação e euforia. Assim é o rock por excelência, e assim é o disco de estréia do trio curitibano. Seu grande charme é não querer nada além de executar quatro ou cinco acordes em cada som - e falar sobre seus novos ternos de brechó, suas garotas do bar e aquelas outras, metidas demais.

8. Cansei de Ser Sexy - Cansei de Ser Sexy. Modernetes, conquistaram o público... modernete. Mas o disco de estréia é para todos.

9. Violins - Grandes Infiéis. Sem gravadora, mas com muitas pancadas de guitarra, baixo firme, bateria criativa e algumas das mais fortes e reflexivas composições de 2005, os goianos provam que rock bom é feito na raça.

10. Móveis Coloniais de Acaju - Móveis Coloniais de Acaju. Integrado por nada menos do que nove (!) músicos, o MCA já é a grande sensação do novíssimo rock independente de Brasília. O saboroso caldeirão sônico do grupo centra fogo em um ska bastante singular e é adornado por arranjos quase psicodélicos, ou então vem mixado a sopros mais ortodoxos, que conferem às músicas um ar quase carnavalesco. Uns barbudos do Rio faziam isso muito bem.

Faltou lugar:
Mula Manca & a Triste Figura (O Circo da Solidão), Maria Rita (Segundo), Pato Fu (Toda Cura para Todo Mal), Ludov (O Exercício das Pequenas Coisas), Latuya (Alegorias Gratuitas), Irmãos Rocha! (Ascensão e Queda dos Irmãos Rocha!)

No fone: The Strokes - "On the Other Side"

Top Ten 2005 - Filmes

Coisa estranha esse 2005. Aconteceu tanta coisa e, ao mesmo tempo, parece que o ano não andou. Não foi bom, não foi ruim... Sei lá, talvez seja o fato de que meus filmes preferidos tenham sido os do Oscar (três deles!), coisa mais rara que achar figurinha do Hulk no Doritos. Sinal também de que a Academia acertou como não fazia há décadas.
O filé mignon do ano, na verdade, só vai dar as caras por aqui em dozmiliseis (Brokeback Mountain, Syriana, Capote, The Descent, Last Days, Caché, Match Point, Good Night, and Good Luck...). Além disso, deixei passar muita coisa que dificilmente vai me decepcionar (Flores Partidas, O Jardineiro Fiel, Contra a Parede, Crash, Uma Vida Iluminada, Caiu do Céu, Cidade Baixa).
Em casa, a história foi outra: com o DVD novinho (pago em 0 + 10x e já pifado!) e a promoção pega-lançamento-ganha-dois catálogos da locadora, pude aproveitar esses doze meses pra colocar minha filmografia em dia. Desvirginei classicaços como Crepúsculo dos Deuses, A Malvada (valeu, Didigo!), Festim Diabólico, Sindicato de Ladrões, O Último Tango em Paris, Fugindo do Inferno, Rebeldia Indomável, os três do James Dean, antigos de Coppola, Kubrick e Scorsese... Dos recentes, Ônibus 174 e E Sua Mãe Também entrariam fácil, fácil nessa listinha aí de baixo. Também foi o ano do reencontro com Ensina-me a Viver, um dos meus grandes cults!!
2005 foi ainda o ano que me redimiu de um preconceito bobo: seriados. O viciante Nip/Tuck foi a melhor coisa que meus olhos viram, seja no cinema, seja na telinha. Violento, amoral, ousado, puta trilha, tudo aquilo que gosto de ver na telona estava lá, naqueles cinco disquinhos de R$ 125 (compro ou pirateio?). Os seis personagens principais de Six Feet Under também garantiram um espacinho no meu coração - isso sem falar n'O Urso na Casa Azul!! Agora é roer as unhas esperando chegar o box com a primeira temporada de Lost.
Bom, deixemos o papo de lado e vamos logo à ação!
Parafraseando meu amigo Rodrigo, um feliz Ano Novo a todos nós, noguinhos!


1. Menina de Ouro (Million Dollar Baby). Não há nada melhor que falar "um merecido Oscar de melhor filme". Clássico imediato.

2. O Aviador (The Aviator). O melhor Scorsese desde Cabo do Medo levou um pescoção sem dó nem piedade do Clint. Mas um dia ele ainda vai sair daquele tapete vermelho com um boneco na mão.

3. Marcas da Violência (A History of Violence). Miolos estourados e inteligência convivendo numa boa? Caraca, tinha esquecido como é fantástico esse Cronenberg!

4. Kung-Fusão (Kung-Fu Hustle). Todo ano tem de ter seu clássico trash. Ano passado foi a vez de Shaun of the Dead; neste, Stephen Chow provou que ESTÁ aí pra brincadeira com um filmaço. Piração total.

5. Sideways - Entre Umas e Outras (Sideways). Só não amou quem não pegou o espírito.

6. King Kong (idem). A seqüência do Empire State, senhores.

7. Sin City - A Cidade do Pecado (Sin City). Já tava começando a achar que o Robert Rodriguez era uma farsa. Ainda bem que eu estava errado.

8. Herói (Ying Xiong/Hero). Espetáculo é uma palavra que deve ser guardada para momentos especiais; este é um deles. Digam-me um filme visualmente mais bonito. Só um.

9. A Vida Marinha com Steve Zissou (The Life Aquatic with Steve Zissou). Continuem falando mal do Wes. Continuem.

10. Closer - Perto Demais (Closer). "Qual o gosto da porra dele? É adocicada?". Depois dessa fala, até a Julia deu pra engolir - eu disse a Julia, não a porra!!

Faltou lugar:
Maria Cheia de Graça, Hora de Voltar, O Clã das Adagas Voadoras, O Segredo de Vera Drake, A Noiva-Cadáver, Contra Todos, Oldboy, Mar Adentro, O Guia do Mochileiro das Galáxias.

No fone: Teenage Fanclub - "Cells"