1/11/2006

Cinquinho


O Jardineiro Fiel. Já tinha perdido as esperanças de vê-lo no escurinho, mas eis que surge um Cine Dunas pra saciar a imensa curiosidade de conferir o meu xará em versão big budget.
Vamos combinar que esses thrillers político-investigativo-internacionais estilo O Americano Tranqüilo nunca me chamam muito a atenção, acho uma chatice; é tipo sentar, se deixar envolver por mais de duas horas (sempre!) e abrir a porta do cinema já preocupado se o cachorro fez ou não cocô na sala enquanto tavas fora. Até o último sábado, nenhum título desse gênero tinha conseguido me passar algo orgânico, humano, emotivo. Mas o nosso Meirelles, mesmo tendo que conviver com coisas como falar outra língua, driblar orçamentos e atender exigências de produtores e um batalhão de gente que nunca viu mais gorda, consegue imprimir justamente isso à trama: humanidade.
É um trabalho embasbacante, mesmo. Bobagem querer compará-lo a Cidade de Deus, embora o assunto guarde parcas semelhanças (tráfico de drogas = laboratórios farmacêuticos. Não?). Temos aqui Ralph Fiennes mandando ver em seu grande papel desde o Schindler, César Charlone provando que já pode encomendar a patente de sua eletrizante assinatura visual, mais uma linda trilha sonora do colaborador habitual de Almodóvar, Alberto Iglesias... E a Rachel Weisz ainda faz um personagem cativante! É ou não é um feito de se aplaudir em pé, e de muletas? Nota 8,5.

Só fui ver agora sexo, mentiras e videotape . Vergonhoso, não? Interessante perceber que, depois desses anos todos na ativa, James Spader é mesmo um dos mais subestimados atores do cinema contemporâneo. Nota 8,5.


Outro que deixei passar na época do lançamento foi O Profissional. Nunca pensei em entrar pro fã-clube do Luc Besson, mas depois desse é bem possível que eu crie um aqui em Rio Grande. Tá, não é pra tanto... Nota 8,5.

Tesis - Morte ao Vivo eu conheci há uns cinco anos, sintonizei-o quase dormindo num desses Intercines da vida. Ele já tinha até começado, e obviamente dublado (Deus e Mônica, pelo menos, sabem o quanto abomino essas duas coisas), mas naquela noite me agarrou e não largou mais. Fui redescobri-lo há uns dias, na prateleira mais obscura de uma locadora tomada pelas areias cassinenses. O filme fala de snuff movies (aqueles vídeos caseiros em que as pessoas se torturam e matam em frente às cameras. Assunto legal pacas) e é dirigido por ninguém menos que Alejandro Os Outros Amenábar, ainda em sua fase espanhola. É tudo aquilo que 8mm quis ser mas, graças à notória imbecilidade de Joel Schumacher, não conseguiu. A segurança narrativa do então estreante é de pôr no chinelo qualquer Roland Emmerich da vida. Mas Tesis ainda tem cenas encagaçantes (o uso do som é exemplar), boas atuações (o estudante fissurado em trash é de morrer de rir) e um desfecho satisfatório. Coisa rara num suspense, seja ele multimilionário ou de fundo de quintal - como é, e que bom, o caso deste filmaço. Nota 8.

Que Roman Polanski é uma lenda viva qualquer noguinho sabe - entretanto, por deixar passar as velharias dele na era do VHS ou continuar morando no fim do mundo, ainda conheço pouca coisa do polonês. Só tinha visto O Bebê de Rosemary, Chinatown e O Pianista, uma trinca que beira a perfeição. Esse trio acaba de virar quarteto: Repulsa ao Sexo (1965) é pesadaço, claustrofóbico, surreal, a esquizofrenia em sua plenitude. Uma quase obra-prima.
A historinha, a gente conta em duas linhas: Catherine Deneuve, linda, loira, virgem e perturbada, simplesmente não tem vontade de dar pra ninguém e, trancada em seu apartamento, aos poucos começa a ficar pinéu de vez. Que mais posso dizer? Rico em nuances, Repulsion continua sendo um dos mais importantes filmes dos sixties, simplesmente por ir contra a maré de liberalismo que se iniciava na década. Em pouco mais de 100 minutos de projeção, penteados, minissaias, carangas envenenadas e uma daquelas trilhas sonoras da época, com flautinha feliz e tudo, travam um embate em p&b com navalhas, gente depressiva, estupros e comida apodrecendo.
Vovô Polanski vem aí com Oliver Twist, mas o que eu quero mesmo dele é Faca na Água (1962), A Dança dos Vampiros (1967), O Inquilino (1976)... Mais cedo ou mais tarde eles vêm. Tomara. Nota 9.

No fone: The Rakes - "Violet"

2 comentários:

Penkala disse...

engraçado.eu acho que sou A ÚNICA NESTE MUNDO QUE NÃO GOSTA DE SEXO, MENTIRAS ...
gostei de TESIS, mas vou confessar que o que me atraiu do filme foi mais o EDUARDO NORIEGA (de Plata Quemada e Lobo) que o resto, que não me fez muito a cabeça (apesar de achar Tesis um filme bueno, vale?!)
agora... engraçado mesmo é o Roman Polaco, sabe? repulsion é genial, mas eu DETESTO A DENEUVE, entonces... dos outros eu amo O PIANISTA, e apenas gosto de rosemary's baby e o inquilino, que vi altas da madruga naquele canal do correio do povo.
luc besson não me agrada mucho, pero O PROFISSIONAL é com Jean Reno, que é excelente.

MOVIEMAD disse...

que seleção hein!!
4 pra todos (com chances a 4,5!)