6/30/2006

Inda falta Munique... vergonha!

Ainda bem que já sou jornalista. Do contrário, depois de Todos os Homens do Presidente ano passado e agora Boa Noite e Boa Sorte, ia ter de perder quatro anos da minha vida numa faculdade. George Clooney, meu caro, hoje em dia tu pode fazer o que bem entenderes. Nota 9.

Vendo-o pela duocentésima vez, dá pra dizer que o primeiro Duro de Matar é um clássico do cinema de ação. À exceção do cabelo da Bonnie Bedelia e dos sons que rolam na limusine, tudo parece atemporal. Bruce Willis com tiradas antológicas ("agora eu sei o que é estar entalado!"), ação non-stop e a presença de figuras ilustres da porradaria como esta aí ao lado (Al Leong, que também cagou Mel Gibson a pau em Máquina Mortífera) completam o melhor programa que se pode pedir prum domingão à noite. Nota 10.

Empolgado com o revival "ação 80's" promovido pelo Domingo Maior, taquei-lhe o DVD de O Exterminador do Futuro. Ah, Shwarzenegger... por que foste te meter na política? Tão competente que era com um trabuco na mão... Nota 9,5.

Na semana da Besta, que tal um filme de terror legal? O Exorcismo de Emily Rose fez bonito no escurinho lá de casa, com um copão de coca-cola e dez unhas prontas para serem roídas. Nota 7.

Já dá até pra imaginar a voz do locutor da Sessão da Tarde: "esses caras da pesada vão deixar a cidade completamente maluca ao lado desta tremenda gata, que é puro veneno. Juntos, eles vão aprontar as mais loucas e divertidas confusões!". Isto resume bem Os Gatões. A passagem do antigo seriado para a telona deve ser o recordista mundial de "wows" e "u-hus" por minuto. O filme fala, basicamente, sobre dois garotões mongas e encrenqueiros fugindo num Dodge em alta velocidade e uma loirosa de shortinhos curtos e apertados (hum... não é de todo mau...). O problema é que a lógica inexiste e todos os policiais são facilmente enrolados pelos malandros. Difícil dizer qual dos atores está mais perdido; a cena em que Willie Nelson dá um sopapo no nariz de Burt Reynolds deve figurar entre os anais da antologia cinematográfica. Uma pataquada sem fim, merecidamente agraciada com sete indicações ao Framboesa de Ouro. Foge tu também! Nota 4.

O Segredo de Brokeback Mountain, filme do ano? Pode apostar que sim. Ennis Del Mar e Jack Twist... que casal massa. Pena que a Mônica só vai conhecê-los quando forem pra estante; mais uma vez, dormiu. Bobona. Nota 9,5.

As risadas gravadas eram um tanto incômodas, e aquele misto de felicidade constante + yupiezinhos em busca de seus sonhos também. Mas depois que comecei a acompanhar Friends, pude ver que se tratava de um seriado sempre muito bem escrito, uma metralhadora de piadas intercalada vez que outra por uns momentos dramáticos de partir o coração. A 3ª Temporada Completa é tão boa quanto as anteriores. De se urinar rindo, às vezes. Nota 8,5.

Quem não curte futebol tem mais uma razão para, na hora dos jogos, ligar o DVD junto com a TV: abordando o submundo das famosas gangues formadas entre torcidas organizadas inglesas, Hooligans é atual, urgente - e uma paulada sensacional. Elijah Wood (o eterno Frodo de O Senhor dos Anéis) faz um estudante que é expulso injustamente da faculdade de Jornalismo em Harvard, nos EUA. Ele decide ir para a casa de sua irmã (Claire, mais chororô que em Encontro Marcado) em Londres. Lá faz amizade com seu cunhado, Peter (Charlie Hunnam, um Brad Pitt genérico), que passa a convidá-lo para rodadas de cerveja em todos os pubs possíveis e imagináveis da Inglaterra. Logo o jovem estará devidamente apresentado a um mundo totalmente inverso ao que vivia nas terras do Tio Sam. Ele aprende a marcar seu território através das amizades que faz, sem perceber que a companhia não é das melhores. Para deleite daqueles que apreciam um cinema visceral e realista, a sanguinolência come solta nas brigas de gangues, com algumas cenas chocantes fora dos estádios. Ótima surpresa, inédita nos cinemas brasileiros. Por que será? Nota 8.

Uma das mais recentes modas de Hollywood é a transformação de clipeiros em diretores de cinema. O cineasta Tony Scott pegou a contramão de David Fincher, Spike Jonze, Michel Gondry... Tomemos como exemplo seu último rebento: baseado na história verídica da ex-modelo que se tornou caçadora de recompensas, Domino é um gigantesco videoclipe de 127 minutos, bem ao estilo MTV. Tudo é exagerado, da fotografia estourada e colorida até a câmera atordoante e os infindáveis cortes na edição (quase não dá pra enxergar os atores!). O formato pode ter funcionado num Assassinos por Natureza aqui, um Corra Lola Corra acolá, mas com Scott a coisa não deslancha. Ele tenta deixar a fita com um ar cool o tempo inteiro, mas, no frigir dos ovos, quem sai ganhando é a nossa enxaqueca....xiii... achei que tivesse uma aspirina aqui no bolso... Nota 5.

Miyazaki deve tomar no mínimo um chazinho de cogu antes de ir pra planilha desenhar. Bem como A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado é um fascínio de som e imagem, com uma penca de tipos inesquecíveis, sensorial, loucura total. Tipo de longa capaz de nos transportar para outros mundos (um novo A História sem Fim?) - e renovar nossas esperanças na animação tradicional, depois do fantástico novo universo proporcionado pelos pixels da Pixar. Nota 8,5.

Minha última sessão no extinto Cine Glória, aqui de Rio Grande, foi Quase Famosos. E ele segue merecedor de um cantinho especial no coração do pápi. Ao lado de Jovens, Loucos e Rebeldes, o melhor climão setentista já registrado em película. Uma obra-prima da emoção. Nota 9,5.

O mercantilismo e a falta de criatividade dos produtores hollywoodianos às vezes preocupam mais que qualquer camada de ozônio. Desta vez, resolveram adaptar para a telona um obscuro desenho da MTV, Aeon Flux, que segue a recente fórmula "heroína-solitária-em-trajes-sumários". Mas o resultado consegue ser pior que Tomb Raider e Resident Evil juntos! Ambientado num futuro distante (bota distante nisso... 400 anos!), quando uma epidemia matou a maioria da população terrestre, o longa é uma bobajada sem qualquer nexo. História ou trama inexistem, apenas várias cenas, uma atrás da outra. As seqüências de ação estão entre as mais chochas dos últimos tempos, os cenários parecem saídos direto do set de Xuxa e os Duendes, e atrizes oscarizadas pagam um vale danado com cabelos e roupas ridículos. Fluxo zero! Nota 4.

No fone: Wolfmother - "Pyramid"

6/02/2006

Que venha junho!

Se o mundo é dos mutantes, Brett Ratner acaba de virar uma borboleta. Seu X-Men: O Confronto Final não só extermina todas as dúvidas que pairavam sobre sua (falta de) capacidade em dar seqüência ao ótimo trabalho de Bryan Singer, como consegue ser o mais bem-acabado episódio da trilogia. Fazendo a festa dos marvelmaníacos, temos atores ostentando penteados bizarros com impressionante dedicação, e efeitos (da neozelandesa Weta Digital) saúdam a inteligência de uma trama bem amarradinha e sempre boa de acompanhar. Curti o Fera também. Só uma confissãozinha nerd: sonho em ver um dia, num mesmo filme, Wolverine, Colossus, Ororo, Ciclope, Fera e Noturno. Nos meus áureos tempos de Superaventuras Marvel, esses eram porradas. Nota 8.

Então vou dizer: demorei um pouco a amar Kill Bill - Vol. 1. Isso aconteceu na segunda ou terceira espiada no filme. Mesmo urrando de prazer com aquela mistureba de kung fu clássicos, animes e blaxploitation, eu sabia que o Quentin era mais do que aquilo. Ele beirava à perfeição, mas não era perfeito. Nota 9,5.


Já com o Vol. 2 foi o contrário. Amor à primeira vista. A segunda parte mostrou um diretor com plena noção de seus superpoderes, capaz de soltar diálogos definitivos aqui e ali, comandar cenas de ação com a agilidade de uma Daiana dos Santos, empilhar clímax em cima de clímax, e inovar com uma seqüência de quase dois minutos totalmente às escuras (a do caixão). Mas o grande diferencial eu demorei a entender qual era. Os atores. Como num passe de mágica, canastrões eméritos como Michael Madsen, David Carradine e Daryl Hannah adquirem a envergadura de atores de verdade. E o Pai Mei, então? Um dos meus cults, desde sempre. Vai demorar o próximo, Quentin? Nota 10.


Chegou às locadoras, semana passada, a Quarta Temporada de A Sete Palmos. O que esperar de uma série que aborda o dia-a-dia de uma família de agentes funerários? Em que a matriarca viúva e sessentona se revela uma ninfomaníaca voraz, o protagonista faz coisas tão naturais como receber um blow-job do encanador, a caçula começa a experimentar todas as drogas que aparecem para dar vazão aos seus dotes artísticos, e em que os melhores episódios são encerrados com Radiohead e Arcade Fire no letreiro? Sem trocadilhos, é algo fora de série. Brabo vai ser ter de esperar até o ano que vem pela temporada derradeira. E agora, baixo ou não? Nota 9 (dois ou três episódios chegam a 10).


Quem quiser conhecer o novo James Bod pode alugar sem medo Amor Obsessivo. O tal Daniel Craig é mais ator que Pierce Brosnan e Timothy Dalton juntos e não deve fazer feio na franquia. Esta pequena produção britânica foi pouquíssimo comentada mas é um colírio para os olhos. Legalzão. Nota 7.

Craig também está em Nem Tudo é o que Parece, tradução um tanto monga para Layer Cake. O filme tem a direção de Matthew Vaughan, produtor e amigo íntimo de Guy Ritchie. Não é tão cool quanto Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes ou Snatch, mas tem lá o seu valor. Nota 7.

Fui pronto pra detestar A Casa de Cera. Céus, outro remake de terror? Paris Hilton? Hip hop na trilha? Tudo parecia conspirar contra. Mas não é que essa produçãozinha maldita me pegou? Até a metade é aquela droga de sempre (galerinha-insuportável-de-playboys-e-patricinhas invadindo o terreno de caipiras-ameaçadores-de-dentes-podres-e-caminhonetes-idem) mas lá pelos 40 minutos o filme engata uma quinta e não pára mais. O grande xodó é a encenação das mortes. Tem de tudo aqui, e as coisas acontecem com a velocidade e uma capacidade de surpreender que a gente não vê com muita freqüência no gênero. Arroz, feijão, bife, ovo frito e salada verde pros amantes do terror. Nota 6,5.

Fodidaço após tomar da mulher e dos filhos um homérico pé na bunda, o vendedor de móveis Samuel Bicke deposita todos os seus problemas na figura do então presidente Richard Nixon. Decidido a se vingar, ele decide armar um plano mirabolante para assassiná-lo. O Assassinato de um Presidente, estréia de Niels Mueller atrás das câmeras, é baseado na história verídica de um homem que, em 1974, tentou raptar um avião para fazê-lo colidir contra a Casa Branca. O filme é um retrato verdadeiro de como o desespero pode nos tomar por completo, e do quão falho é o conceito de "sonho americano". Mergulhando fundo na nóia, Bicke realmente se enxerga como um anjo vingador (não dá pra não lembrar de Taxi Driver) numa época em que a América perdia por completo a sua inocência. Eram os anos do Vietnã e da ameaça da Guerra Fria, de crises petrolíferas, escândalos e corrupção política. O rosto de Nixon estava onipresente em todos os televisores, todo o tempo - daí a descontrolada antipatia do anti-herói pela bochechuda figura do querido. Sean Penn, um ator sempre interessante, talvez mostre aqui o seu melhor trabalho: seja tentando uma aproximação com a ex (Naomi Watts, com quem contracenou em 21 Gramas) ou pedindo arrego no banco, ele tá assustadoramente vulnerável, quase chinelão, diferente de qualquer personagem que já encarnou. A melhor atuação que vi este ano. E aquele bigodinho ficou escroto! Nota 7,5.

Quando é que a gente realmente se liga que está assistindo a um filme ruim? Às vezes acontece quando os atores não param de falar asneira, e proferir frases de efeito forçadésimas, como se estivessem interpretando Shakespeare. Noutras, são os efeitos visuais capengas e fora de hora que põem toda a credibilidade da história por água abaixo. E há ainda aqueles "de terror" quando o roteirista se permite cair na armadilha de clichês batidíssimos, como passar a mão no espelho embaçado e enxergar o tinhoso. Horror em Amityville, a enésima refilmagem de um clássico do horror tem tudo isso e mais. Ou seria menos? Literalmente, um horror. Triste fim para a Metro Golwyn-Mayer (que depois seria comprada pela Sony). Nota 5.

Plano de Vôo podia ser bem melhor se o diretor, um desconhecido aí, não quisesse se fazer passar por David Fincher O TEMPO INTEIRO. Como está, é um Supercine de luxo - Jodie Foster pode até declamar o encarte do Babado Novo que a gente vai aplaudir em pé. Mas a experiência final é a de ter-se deixado enganar. Nota 6,5.

Concebido pelo meu diretor favorito, Dr. Fantástico (1964) foi um dos muitos que vi aos meus 11 ou 12 anos. Não entendi muito dele àquela época. Agora, homem feito (ui...), finalmente me esbaldei com tanta genialidade, tanto nonsense, tantos bons atores. Esse Peter Sellers era um gênio tão grande quanto Kubrick. E George C. Scott, então? Que monstro! Cara, até o Sterling Hayden deixa de ser canastra pelas mãos do Stanley! Bah!! Nota 9,5.

É possível fazer um filme de terror em pleno deserto, com apenas quatro personagens? Eis o maior feito de Wolf Creek, uma modesta fita australiana: a economia de recursos, que aliada à criatividade da equipe de produção resulta numa obra diferente e razoavelmente assustadora. Duas minas e um cara atravessam a Austrália e se divertem como nunca em 40 minutos de filme: dormem sob as estrelas, fumam um (er... vários), até uma putaria se anuncia. E então os mochileiros chegam ao Parque Nacional Wolf Creek, um ponto turístico real que sofreu simplesmente o maior impacto de meteoro no planeta. Eles decidem explorar a área e, não demora muito, o assassino se revela. Aí é pauleira total. Panicomaníacos certamente vão estranhar a crueza da produção; aqui quase não há sustos, assassinos mascarados, gatos pretos ou grandes revelações; a sensação que nos acompanha é a de ver algo que sabemos que vai nos aterrorizar, a necessidade de sobreviver e arranjar um jeito de fugir. Não é um filme isento de defeitos (o final anticlimático é um bom exemplo), mas cumpre o seu papel com louvor. Nota 7.

Pretensioso, chato, datado, sem força dramática ou comunicação com o público, Sal de Prata é uma prova viva de que a teoria é muito, mas muito diferente da prática. Gerbase pode ser um bom professor de Cinema na nossa PUC-RS, mas mesmo os seus alunos mais desinteressados devem ter caído na gargalhada ao assistirem a este seu novo longa "sério", depois do fraco Tolerância. Decidido a contar os bastidores de uma produção cinematográfica, ele toca em assuntos que pouco interessam ao espectador comum, como a substância química do título (usada pelos cineastas para deixar a película sensível à luz. Pode até ser algo interessante para nós, amantes da sétima arte, mas a forma como o cineasta expõe isso é broxante). A forçação de barra é tamanha que praticamente todos os cenários exibem pôsteres cults, câmeras ou uma daquelas cadeiras de diretor. Será que Gerbase realmente acha que tem talento? Jorge Furtado, então, é o novo Billy Wilder! Nota 3.

No fone: Grandaddy - "Summer it's Gone"