
"Não quero que esta guerra vire um videogame", diz lá pelas tantas o piloto "interpretado" por Josh Lucas em
Stealth. Mas é exatamento isso o que ficou martelando minha cabeça quando abri a gaveta do DVD: que eu acabava de assistir ao mais descerebrado dos jogos eletrônicos. A função toda é completamente nada-a-ver (jato militar ultra-secreto adquire inteligência própria, vejam vocês) e os atores só abrem a boca pra falar bobagem. As cenas de ação, que poderiam salvar alguma coisa, são confusas, mal editadas e não devem empolgar o mais descontrolado dos hiperativos. Ai, ai... nunca pensei que fosse sentir saudade de
Top Gun.
Nota 2,5.
Difícil de achar mesmo é filme de adolescente legal, honesto. Em seu segundo longa,
Os Reis de Dogtown, a diretora Catherine Hardwicke (que não me convenceu muito em
Aos Treze) consegue isso brindando o espectador com uma trama simples, mas a que se assiste com prazer. A galerinha ishperrrta dos esportes radicais tem mais motivos pra curtir o filme, inspirado no documentário
Dogtown & Z-Boys. Todos, porém, vão acompanhar com gosto o início da febre dos skates. Atores juvenis todos OK: Emile Hirsch (
Meninos de Deus) e John Robinson (
Elefante) estão à vontade como os skatistas mais talentosos do pedaço. Caricato como nunca, Heath Ledger também segura as pontas no papel do guru falcatrua. Atenção ainda para as participações especiais do loucaço Johnny Knoxville e da rediviva Rebecca De Mornay. Ah, e saca só a trilha sonora: Neil Young, Black Sabbath, Stooges, Deep Purple, Pink Floyd, Cream, Faces, T. Rex, David Bowie, Jimi Hendrix, Alice Cooper, Peter Tosh... Dá pra tirar a imagem e deixar rolando o som numa boa.
Nota 8.
Não, não é birra de rio-grandino. Mas
Concerto Campestre, drama de época inteiramente filmado na vizinha Pelotas, é mesmo um soretaço! O diretor Lima até começa bem, contando com o apoio de uma impecável cenografia, mas logo caga tudo ao se levar a sério demais. O roteiro e a direção se perdem nas cenas mais decisivas e os atores, coitados, não conseguem acompanhá-los. Péssimos, Leonardo Vieira e Samara Felippo representam como se houvesse um espelho à frente. O véio Abujamra, meio aéreo e com sotaque carregado, acaba tendo seu talento desperdiçado. Já o nosso Lori Nelson, embora com um papel decisivo para o desfecho da trama, também é mal aproveitado e pouco pode fazer com meia dúzia de falas. Mas o que mais me impressionou foi o clímax final com o furacão, que traz uns efeitos dignos dos melhores episódios de Chapolin. Agora, é esperar pelo resultado final de
O General e o Negrinho, estrelando... Tarcísio Filho. Aonde fica o banheiro mesmo?
Nota 4.

Pedro Almodóvar amadureceu muito sua técnica desde
Matador (1986). Mas a crueza do filme segue fresquinha. Banderas novinho e virgem é muito estranho. Os cabelos de todos também.
Nota 8.O Turista Acidental também foi um desses que deixei passar à época e só me apresentaram agora. Geena Davis levou o Oscar, mas é William Hurt quem tem o melhor papel. Até temos boas promessas naquela meia hora de abertura, mas a Geena com aquela simplorice toda, e a musiquinha do John Williams deixa tudo com um verniz hollywoodiano que termina por comprometer a nossa boa vontade para com o filme. Podia ser um clássico, mas fica na História como uma competente comédia dramática.
Nota 7,5.
Juan José Campanella é uma das maiores revelações do cinema mundial contemporâneo. Dá pra situar fácil, fácil o argentino entre nomes como Danny Boyle, Fernando Meirelles, M. Night Shyamalan e David Fincher.
O Filho da Noiva é um dos meus 50 favoritos, e este
O Mesmo Amor, a Mesma Chuva, feito antes mas lançado na esteira do sucesso d'
O Filho..., traz uma carga de emoção e inteligência tão linda que chega a doer. O que esse cara consegue fazer pelo gênero "comédia romântica" merece palmas até do papa. Uma quase obra-prima, também estrelada pelos estupendos Ricardo Darín e Ricardo Blanco. Quando chega
Clube da Lua por aqui, porra??
Nota 8,5.
Deus sabe o quanto procurei
Os Cinco Dedos da Morte (
Five Fingers of Death, 1972). Depois que vi o Top Ten do Tarantino no Independent, então, quadriplicou a vontade de conferir um dos maiores cults dos kung-fu movies. Que permanecia inédito em DVD e VHS, pelo menos pra mim, até encontrá-lo largado numa prateleira de ofertas do BIG, por míseros R$ 9,90. Comprei-o-o. É muito legal. Os diálogos são bisonhos, a fotografia capenga, os japas todos uns canastras, mas o charme e o estilo acabam dando um rosto próprio à produção. É uma glória quando o herói descobre o poder da Mão-de-Ferro e usa-o contra os inimigos - exatamente aí que toca aquela sirenezinha de quando a Noiva de
Kill Bill reencontrava seus algozes. Muito stáile!
Nota 8.
Só conhecia os Irmãos Marx de revistas e documentários na GNT. Considerava o Groucho um gênio da comédia, mas na real todos eles eram umas metralhadoras do humor.
O Diabo a Quatro foi o primeiro da filmografia deles que passou lá em casa. Com certeza, outros virão.
Nota 9.
Quase perfeito
Morangos Silvestres (1957). Os filmes do Bergman são tão bons que parece que ele morreu há eras. Mas não, o sueco véio tá lá, bem vivinho com seus 87 anos, em sua fazenda em Sumollsundsaunzshcer-sei-lá-o-quê. A boa notícia é que vem aí um novo Ingmar,
Sarabanda, após 20 anos de reclusão. Tomara que passem no Dunas.
Nota 9,5.
Sou fã das antigas de Philip Seymour Hoffman. Foi desse talentosíssimo gordinho de cara quadrada a melhor presença nos três últimos do P.T. Anderson e noutra pá de pequenos filmes legais, sempre coadjuvando astros como Robert De Niro e Edward Norton. Seu primeiro papel de protagonista, como o viúvo viciado em gasolina no ótimo
Com Amor Liza, infelizmente passou em brancas nuvens por público e crítica. O amplo reconhecimento de Hoffman finalmente veio este ano com
Capote. É filme de Oscar mesmo, com tudo o que isso traz de ruim, mas uma experiência sempre interessante. Ainda mais para nós, jornalistas.
Nota 8,5.Qualquer filme que comece e termine com uma do
Sgt. Peppers já merece um lugar no Céu. Não satisfeito "apenas" com isso,
O Mundo Segundo Garp (1982) tem bem mais. Como as estréias de Glenn Close e John Lithgow, ambos indicados ao Oscar e marcantes em papéis complexos e ousadíssimos; Robin Williams, também em início de carreira, contido e cativante; e a manutenção do espírito do best-seller de John Irving, uma sátira ao comportamento humano como poucos americanos tiveram culhões de pôr no papel. Um filme injustamente esquecido - tão esquecido que não deu pra achar nenhuma foto pra ilustrar esta crítica.
Nota 8,5.
Beijos e Tiros é daqueles que acabam prejudicados por uma overdose de coisas legais. O roteiro do autor-diretor Shane Black é espantoso de tão cool, mas lá pelas tantas a gente se enjoa de tantas piadinhas internas. Não fosse tão prolixo, podia ter chegado a um alcançável 9.
Nota 7,5.
Filme de terror pra mim tem que ser sujo, podre, grotesque total. A intenção do gênero não é assustar ou nos causar asco? Pois bem,
Jogos Mortais 2 é a mesmíssima coisa que o primeiro: um longo videoclipe de trash metal mauricinho, com câmeras-lentas e aceleradas sempre fora de hora, uma trilha metida a rebelde e a já obrigatória fotografia estourada no verde-musgo com luz fluorescente. Não há preocupação em dar tempo para a platéia se envolver com o esboço de roteiro. Pra variar, o assassino aqui quer dar uma lição de moral nas vítimas seguindo a cartilha de
Se7en, pesquisando sobre cada uma delas. É por isso que o filme não machuca ninguém, não incomoda nem faz sofrer. Algumas idéias e imagens são grotescas, mas resultam num catálogo desprovido de tensão ou tesão. Uma única cena isolada traz algo de desagradável, especialmente para os dias atuais: a mina sendo empurrada pra dentro de um poço repleto de seringas usadas. De resto, tão insossamente ruim quanto o original.
Nota 4.
Aviso de antemão: quem se aborreceu com as três horas de
Além da Linha Vermelha certamente não vai gostar de
O Novo Mundo. Ao decidir filmar as desventuras de Pocahontas (!) e o colonialismo americano, Terrence Malick fez mais uma obra estranhamente bela e lírica. São raios de sol vazando pelas árvores, paisagens verdes iluminadas por uma luz divina em meio a escalpelações e índios decapitados, closes em mãos e detalhes de rostos e os indefectíveis momentos de auto-reflexão por meio de poéticas narrações em off. Se há uma palavra para descrever o cinema hippie do sessentão Malick, esta é "sensorial". Seus filmes são orgânicos, vivos, de imagem mesmo, contrapondo paz e inferno, água e fogo, natureza e destruição. Eu, como amo
Linha Vermelha, amei muitos pedacinhos deste. Viva Hollywood por ainda bancar extravagâncias como esta! Direto pro Top 10 do ano.
Nota 8,5.Ah, aos curiosos, eis a listinha nada óbvia do Quentin:
1. TRÊS HOMENS EM CONFLITO (Sergio Leone, 1966)
2. ONDE COMEÇA O INFERNO (Howard Hawks, 1959)
3. TAXI DRIVER (Martin Scorsese, 1976)
4. JEJUM DE AMOR (Howard Hawks, 1939)
5. ROLLING THUNDER (John Flynn, 1977)
6. MUITO RISO E MUITA ALEGRIA (Peter Bogdanovich, 1981)
7. FUGINDO DO INFERNO (John Sturges, 1963)
8. CARRIE, A ESTRANHA (Brian De Palma, 1976)
9. COFFY (Jack Hill, 1973)
10. FIVE FINGERS OF DEATH (Chang Cheh, 1972)
11. JOVENS, LOUCOS E REBELDES (Richard Linklater, 1993)
No fone: Rilo Kiley - "My Slumbering Heart"