5/12/2006

Ainda as férias da Mônica

O cinema de massa já permite que um país como a Rússia faça coisas gigantescas recheadas de efeitos e trucagens como Guardiões da Noite (Nochnoy Dozor... engraçado). Esta superprodução virou febre no país de origem, de onde partiu pra conquistar fãs ao redor do globo. Não fui um deles, até porque fiquei mais decepcionado que surpreendido - especialmente depois duma promissora meia hora inicial. Não merece esse alarde todo, mas quem estiver disposto a encarar uma salada de vampiros, guerreiros medievais, seres amaldiçoados, criaturas esquisitas e a "eterna luta do bem contra o mal" até que vai conseguir se divertir. O grande defeito da película é, ironia do destino, sua maior qualidade: o visu. Por mais que a gente fique de boca aberta, a estrutura de Guardiões é um compêndio de todos os longas de ação, fantasia e ficção-científica recentes. Quando a gente percebe isso, a identidade do longa já foi pro saco. Ah, mas eu vi meio com sono, portanto não ponho a mão no fogo por esta crítica aqui. Um 6,5 me parece de bom tamanho no momento. Nota 6,5.

Eis que, num daqueles dias de prateleiras vazias na locadora, me surge Pacto Maldito. Capinha bonita, nada de diretor ou atores conhecidos. Daqueles lançados com pouco alarde nos cinemas (onde, sem maiores explicações, recebeu o título Quase um Segredo) e que caem que é uma beleza no escurinho doméstico. Típica produção de descobertas adolescentes, acompanha um grupo de jovens de 13 a 17 anos - o mais conhecido deles é Rory Culkin, de Sinais e eterno irmão do Kevin McCallister - que resolvem se vingar do colega de um deles. O gordinho George vive descendo o laço na rapaziada, e é convidado por um deles para um inocente passeio de barco de fim de semana. Em mar aberto, os guris confessam seus medos e fraquezas e fazem declarações de ódio e amizade, até o papo culminar com uma cena digna de nossos piores pesadelos. A forma como o diretor Jacob Estes desenvolve sua modesta história me lembrou diretamente de dois clássicos de décadas distintas: Amargo Pesadelo (73) e Conta Comigo (86). A ambientação é praticamente a mesma: florestas e riachos isolados da zona urbana. Mas os diálogos fazem a diferença ("Será que sua mãe vai precisar do carro sábado?", "A única coisa que ela precisa no fim de semana é de um frasco de Valium") e são poucas as cenas que nos fazem sorrir. Bonito. Nota 8.

Confronto Final. Sim, este filme realmente existe, chegou nas locadoras há pouco e é uma das piores invenções de toda a história da humanidade. Contaram pro astro global Jackson Antunes que ele era as fuças do Charles Bronson, e o cara acreditou: uniu-se ao rei dos filmes baratos do cine brasileiro, Alonso Gonçalves, e em duas semanas filmou este Desejo de Matar brazuca. Toda gravada com câmeras caseiras e atores de última (entre os coadjuvantes estão o comediante Caju, do SBT, e a moça da propaganda do Itaú Power Shopping), a "obra" chega a ser ótima de tão ruim. As explosões e tiroteios só conseguem ser piores que os diálogos ("você acha que pode contra nós cinco?", "Cinco não. Quatro!" - e BOOM! neles). O mais afudê são os extras, onde o diretor chega a se desculpar pela ruindade do filme. Quer uma dica de amigo? Convide a galerinha, prepare uma pipoca, acomode-se num almofadão e divirta-se a valer com 108 minutos de pura ação trash. Pode ter certeza que o Domingo Maior nunca mais será o mesmo. Nota 1.

A idéia, louvável, é do canal Showtime americano: são vários filmezinhos, cada um com 60 minutos e reunindo diretores e atores que fizeram nome no gênero horror. Empolgado com esse projeto Mestres do Terror - cujos episódios estão sendo despejados a cada mês pela Paris - eu, que me criei com os Jasons e Freddies da vida, peguei pra ver Dança dos Mortos, de Tobe Hooper. A expectativa era alta, afinal achava que cada cineasta (Joe Dante, Dario Argento, John Landis, John Carpenter, Stuart Gordon, John McNaughton) iria querer superar os demais na criatividade, na qualidade. Ledo engano. Nem parece que foi este infeliz o criador de três das melhores fitas já filmadas nesse gênero, O Massacre da Serra Elétrica, Pague para Entrar, Reze para Sair e Poltergeist. Muito menos que o criador da história original é Richard Matheson, O filme não tem pé e muito menos cabeça (num futuro pós-apocalíptico, ETs descem à terra e cadáveres humanos passam a ser reanimados com injeções misturando sangue e um liquidozinho nojento), e Hooper filma essa idiotice com uma preguiça de irritar. Efeitos horríveis e Robert Englund (o Freddy Krueger em pessoa) vomitando uns diálogos de teatrinho escatológico completam o abacaxi. A maior supresa é Billy Corgan (que tá de volta com o Smashing Pumpkins) assinando a trilha. Os elogios aos demais filmes têm sido os melhores, mas nem sei se vou continuar nessa. Nota 4.

O Chamado? Ruim. Jogos Mortais? Bleargh. O Albergue? Ainda não vi. Cansado de tanto lixo estilizado, resolvi dar uma nova chance a Mestres do Terror, e olha... valeu a pena. Pesadelo Mortal é o melhor filme de terror dos últimos tempos. O roteiro e a direção dão de 500 a zero nesses filmezinhos de petitudas esfaqueadas. Mesmo tendo feito muitas bobagens por aí, Carpenter ainda leva a profissão a sério. Historinha massa: dono de cinema (uma espelunca que só passa clássicos da podreira) é contratado por um milionário em estado terminal, colecionador de filmes obscuros e de violência extrema, para achar a única cópia do fictício Le Fin Absolue del Monde, que foi exibido uma única vez num festival de cinema fantástico e acabou se tornando uma tragédia (o longa é fictício). Aos poucos o cara começa a mergulhar numa trama que envolve anjos de asas cortadas, visões perturbadoras, olhos furados e decapitações - até descobrir que o filme foi, na real, produzido pelo Tinhoso em pessoa. Por que tu não é sempre assim, Carpenter? Nota 8.

A Passagem começa em ponto de bala, um verdadeiro filmaço. Ewan McGregor e Naomi Watts sempre bem, Ryan Gosling uma das boas revelações recentes (Tolerância Zero, ainda não?), o diretor Marc Forster (que havia feito um ótimo, A Última Ceia, e um mais ou menos, Em Busca da Terra do Nunca) e o plot interessante. Há duas formas de analisá-lo no decorrer da sessão: concentrando-se na (confusa) história ou se atendo à parte técnica, da direção de arte e figurinos à montagem e fotografia. O estilo termina por imperar sobre o conteúdo - no Cinema, assim como na maioria das manifestações artísticas, isso não é legal. Nota 6,5.

Não caio de amores por filmes de doença da semana. Talvez seja isso o que me impedia de conferir, nesses anos todos, Meu Pé Esquerdo (1989). A admiração por Daniel Day-Lewis falou mais alto, e lá tava o filme na sala de casa, semana passada. Veredito? O homem é um monstro. Cada nervo de seu corpo parece se manifestar em cena para extrair uma nova emoção. E é legal ver a Brenda Fricker antes de se tornar a velha dos pombos de Esqueceram de Mim 2. Nota 8,5.

Joan Allen entra certo na minha lista de atrizes favoritas; já as rugas profundas, a grisalhice e o vozeirão tonitroante de Sam Elliott sempre achei cinematográficos, mas nada demais em termos dramáticos. Fora do Mapa põe os dois lado a lado, e ambos fazem um trabalho divino. Quem comanda a câmera, imprimindo um saudável ranço independente, é Campbell Scott, filho do George C. e um dos atores de Singles. Ah, e viver sem grana num fim de mundo? Só no cinema mesmo. Nota 7.

Também testemunhei O Mercador de Veneza na maior das sonolências. Lá pelos 40 minutos já tinha apagado. A partir daí fui acordando, voltando no controle, me entregando de novo, acordando, voltando no controle e me entregando de novo. Só faltava o Al Pacino sair da tela e me chacoalhar. Que merda, como tô fraco. Nota 6 (será mesmo?).

Cameron Diaz de calcinha e sutiã é algo que a gente já tá acostumado a ver. E que bom. Mas, pela primeira vez na carreira, ela parece uma pessoa de carne-e-osso em Em Seu Lugar. Nossos cumprimentos a Curtis Hanson, que com duas pequenas obras-primas consecutivas - L.A. Confidential e Garotos Incríveis - mostrou ser um cineasta diferenciado. Nota 7,5.

No fone: Thom Yorke - "After the Gold Rush (Neil Young Cover)"

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