O ano que terminou sábado foi um dos melhores para a música pop, especialmente no quesito diversidade. Tivemos novidades de grandes bambambãs (Beck, Oasis, White Stripes), a Velha Guarda do rock (Rolling Stones, Paul McCartney, Neil Young, Eric Clapton, Bruce Springsteen), muitas revelações (Arcade Fire, Bloc Party, Futureheads, Kaiser Chiefs) e trabalhos solo de qualidade (Stephen Malkmus, Billy Corgan, Frank Black). Entre os nacionais, ser independente virou sinônimo de prezar pela liberdade de criação e ter controle de todo o processo de gravação. Mas o negócio aqui é mostrar o que de melhor a indústria fonográfica e os programas de download de música nos apresentaram nos últimos doze meses. E que se fodam Charlie Brown Jr. e Jota Quest.
INTERNACIONAIS
1. The Arcade Fire - Funeral. Eles foram capa da Time, precisa mais do que isso? Então vá lá: o maravilhoso octeto canadense tem em Funeral pelo menos cinco ou seis músicas de chorar, gravou single com David Bowie, fez um dos maiores shows que Porto Alegre irá presenciar, esteve na trilha sonora de Six Feet Under... Tudo bem que Funeral é de 2004, mas o Brasil e o resto do mundo só foram descobri-los meses depois. Os artistas do ano, sem sombra de dúvidas.
2. Queens of the Stone Age - Lullabyes to Paralyze. Pode até ser o trabalho mais fraco da carreira dos caras, que já entregaram pelo menos um clássico definitivo (Songs for the Deaf, de 2003). Mas eles são como pizza, sexo e Woody Allen: mesmo quando são ruins, são bons. Ou melhor, ótimos. Baixe, compre, pegue emprestado: tem que ter.
3. Stephen Malkmus - Face the Truth. O terceiro trabalho solo do ex-vocalista do Pavement é um ensolarado tratado sobre como teclados, sintetizadores e outras bugigangas eletrônicas, quando bem orquestrados, podem render arranjos maravilhosos. O clima retrô que percorre os 42 minutos de Face the Truth é dos mais sedutores que um estúdio de som pode render. Malkmus é do bem.
4. Weezer - Make Believe. Os "fãs" torceram o nariz para o último trabalho da mais influente banda indie do mundo. "Eles estão muito pop", foi a crítica que mais se leu por aí. Mas, que diabos, qual o problema nisso? Só "Damage in your Heart" já vale o disco. E quem viu o show deles em Curitiba não teve do que reclamar: o Weezer é rock e pronto!
5. Franz Ferdinand - You Could Have It So Much Better. Os escoceses não tomaram conhecimento do teste do segundo disco, mostrando cancha para conquistar o mundo ao lapidar vários clássicos instantâneos: "Do You Want", "The Fallen", "You're the Reason I'm Leaving", "Walk Away"... No Brasil, vão abrir a turnê do U2. Num mundo justo, seria o contrário.
6. The White Stripes - Get Behind Me Satan. Os Stripes nunca foram a última Coca-Cola do deserto. A baterista Meg White é a pior que se pode imaginar, e a voz estridente de Jack lembra por demais a de Robert Plant. Mas que eles são craques em fazer grandes álbuns, isso ninguém pode negar. Este aqui foi todo gravado com equipamento analógico e é um dos mais coesos da dupla.
7. Oasis - Don’t Believe the Truth. Eles são marqueteiros. São encrencões. São mascarados. Mas, se o próximo disco tiver um punhado de músicas tão bacana quanto este, os irmãos Gallagher estarão perdoados para todo o sempre.
8. System of a Down - Mezmerize/Hypnotize. O trabalho duplo da maior banda pesada desde que o Metallica resolveu tomar um banho de loja foi dividido em seis meses. A ânsia foi recompensada com aquilo que se esperava: uma obra de raiva, velocidade e que transpira musicalidade e inspiração. Cada uma de suas 23 faixas tem vida própria. Heavy metal é com eles.
9. Supergrass - Road to Rouen. Rock'n'roll sem firulas? Não é mais com o Supergrass. Com este álbum, o power trio inglês mostrou sua capacidade em criar melodias sofisticadas e provou que os tempos juvenis de "Alright" estão a anos-luz de distância artística.
10. Daft Punk - Human After All. Entra ano, sai ano, e a música eletrônica sempre consegue arranjar um espaço entre os dez mais. O Daft Punk saiu na frente do arquiinimigo Chemical Brothers e lançou este quase perfeito "Human After All". Com seus pouco mais de quatro minutos, "Technologic" é o retrato de uma geração. Daqui a uns 20 anos, o mundo talvez descubra isso.
Faltou lugar:
Death Cab for Cutie (Plans), Bloc Party (Silent Alarm), Foo Fighters (In Your Honor), Chemical Brothers (Push the Button), Paul McCartney (Chaos and Creation in the Backyard), The Coral (The Invisible Invasion), Brendan Benson (The Alternative to Love)
NACIONAIS
1. Los Hermanos - 4. Não adianta, eles são mesmo diferenciados. Depois de duas obras-primas seguidas (Bloco do Eu Sozinho e Ventura), os cariocas se superaram com um disco difícil, elegante, maduro, daqueles em que os silêncios às vezes falam muito mais que notas musicais. Mais uma vez renegaram o passado recente e, ao trilhar o caminho mais difícil, acabaram perdendo muitos admiradores - mas 4 tem todos os elementos para se tornar um clássico. E aí, já ouviu?
2. Cachorro Grande - Pista Livre. A gauchada fechou contrato com a Warner, juntou uns trocados, foi gravar em Abbey Road e entregou um discaço. Bem melhor produzido que os dois anteriores, é um atestado de que é possível ser autêntico na música mesmo utilizando elementos vistos como obsoletos. E foi o ano em que os gaúchos finalmente aconteceram: mudaram de mala e cuia para São Paulo, foram no Jô, ganharam as rádios rock e mostraram seus elogiados (e ensangüentados) shows no centro do país. Bem ou mal, é onde a coisa acontece.
3. Nação Zumbi - Futura. Chico Science já se foi há sete anos. Mas, a cada nova bolachinha prateada, sua banda de apoio mostra que sabe caminhar com as próprias pernas. Na verdade, eles correm a valer. E em busca de um único objetivo: soar como a banda com o instrumental mais poderoso do país.
4. Tom Zé - Estudando o Samba. Quase setentão, o maior exemplo de gênio incompreendido da MPB nunca recebeu os mesmos louros de Caetano e Gil. Os grandes trabalhos destes, porém, a gente conta nos dedos. Para Tom Zé, é preciso usar as duas mãos.
5. Cidadão Instigado - Cidadão Instigado e o Método Tufo de Experiências. O cearense Fernando Catatau é o maior guitarrista de sua geração. Fernando quem? Pois é, está na hora de o Brasil conhecer esse cara.
6. Walverdes - Playback. Porto Alegre é mesmo uma das capitais tupiniquins do rock. O recém lançado Playback traz, no mínimo, a mais violenta canção nacional do ano: "Seja Mais Certo". E eles moram aqui, bem pertinho. Sorte nossa.
7. Faichecleres - Indecente, Imoral & Sem-Vergonha. Um estado de excitação e euforia. Assim é o rock por excelência, e assim é o disco de estréia do trio curitibano. Seu grande charme é não querer nada além de executar quatro ou cinco acordes em cada som - e falar sobre seus novos ternos de brechó, suas garotas do bar e aquelas outras, metidas demais.
8. Cansei de Ser Sexy - Cansei de Ser Sexy. Modernetes, conquistaram o público... modernete. Mas o disco de estréia é para todos.
9. Violins - Grandes Infiéis. Sem gravadora, mas com muitas pancadas de guitarra, baixo firme, bateria criativa e algumas das mais fortes e reflexivas composições de 2005, os goianos provam que rock bom é feito na raça.
10. Móveis Coloniais de Acaju - Móveis Coloniais de Acaju. Integrado por nada menos do que nove (!) músicos, o MCA já é a grande sensação do novíssimo rock independente de Brasília. O saboroso caldeirão sônico do grupo centra fogo em um ska bastante singular e é adornado por arranjos quase psicodélicos, ou então vem mixado a sopros mais ortodoxos, que conferem às músicas um ar quase carnavalesco. Uns barbudos do Rio faziam isso muito bem.
Faltou lugar:
Mula Manca & a Triste Figura (O Circo da Solidão), Maria Rita (Segundo), Pato Fu (Toda Cura para Todo Mal), Ludov (O Exercício das Pequenas Coisas), Latuya (Alegorias Gratuitas), Irmãos Rocha! (Ascensão e Queda dos Irmãos Rocha!)
No fone: The Strokes - "On the Other Side"
1/02/2006
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Um comentário:
you've got good taste in music :)..
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