3/01/2006

Cara ou coroa


"Às vezes são as coisas estranhas que grudam na memória", diz, uma hora, um dos personagens de Contra Corrente (Undertow). E não é que o drama indie do jovem cineasta americano David Gordon Green é bem isso? No meio de um banquete de imagens estranhóides, há espaço para recursos inusitados como repetição de planos, congelamento de imagem e cenas em negativo - tudo a serviço de um texto que brinca com metáforas e clichês, sem se deixar ser engolido por eles. O personagens são todos bizarros, com destaque prum gurizinho que tá sempre disposto a coisas como comer tinta, classificar os livros pelo cheiro ou enfiar o dedo no pé furado do irmão. Lembrou o argentino O Pântano, que também mexia com três sentidos pouco explorados pelo cinemão: o paladar, o tato e o olfato. Bem maluquete. Nota 8.

Em contrapartida a toda essa esperteza temos o bem monguinha A Luta pela Esperança. Assim como nos ringues, na Sétima Arte o boxe também pode ser dividido em categorias: ele costuma render obras-primas (Touro Indomável, Menina de Ouro), dramas de primeira (Rocky, um Lutador) ou ingenuidades acadêmicas (Homeboy, Ali, Hurricane). A esta última classe pertence este Cinderella Man. A equipe toda do filme parece gritar "olha o Oscar, né gente!", buscando seguir o ranço limpinho e calculista de engodos como Seabiscuit e Chocolate. Não seria melhor esse tal Ron Howard continuar com aquelas fantasias de Sessão da Tarde que ele fazia tão bem (Coocon, Splash)? Hoje ele acha que faz arte, o pobrezinho. Nota 6,5.

No fone: Orquestra Imperial - "Sr. Sabe Tudo"

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