3/21/2006

Semana puxada

Uma semana se passou desde que vi Clean, e a paixão pelo filme permanece intacta. Todos comentaram os dotes dramáticos de Maggie Cheung (melhor atriz em Cannes, a japa realmente domina a cena no papel da drogadita que luta pela guarda do filho), mas quem mais me surpreendeu foi Nick Nolte. Assumindo pela primeira vez um difícil papel de vovô, o cara interpreta com elegância e naturalidade - coisa que não se imagina que possa vir de um astro em franca decadência. Quem sabe ele não assume de vez também uma carreira internacional? Nos EUA, o homem só quer saber de aparecer em foto no cadeião... Nota 8,5.

Cabra-Cega é um filme de 'companheiro' ao estilo Quase Dois Irmãos. Leonardo Medeiros faz bem a lição de casa como um ativista que, na época da ditadura, é baleado e tem de ficar enclausurado num apê enquanto assenta a poeira lá fora. Incomodam um pôster do Che em cena aqui, um livro do Aldous Huxley acolá, mas, a despeito desse copodevinhice todo, é obra forte e honesta. E desta vez o Caco Ciocler ficou de fora - mais um gol da produção. Nota 7.

Ex-jogador de beisebol beberrão aceita treinar um bando de moleques no campeonato local. Mas que merda de plot, hein? Pois então adicione três palavrinhas: Billy, Bob e Thornton, e eis que o resultado de Sujou... Chegaram os Bears não fica dos piores. Além do mais, quem dirige é o Linklater e a trama, embora bobinha, traz um toque politicamente incorreto que é um must (Billy Bob faz uns bicos como dedetizador de ratos, e esvazia os isopores com os bichos mortos pra acomodar o Gatorade da gurizada). Nota 7.

Não se sabe ao certo o que Exílios pretendia analisar: identidade, origens, o papel do mundo... Fato é que o road movie em marcha lenta de Tony Gatliff (como assim, melhor diretor em Cannes?) tem lá suas qualidades (fotografia, eletronices na trilha, aquele plano-seqüência do caminhão partindo das ruínas de cerâmica), mas peca por ser hermético em excesso. Pretensioso, eu diria. Me incomodou a cena final, anti-climática ao extremo (vejam apertando o forward no controle, conselho de amigo). Nota 7.

O "pai de Freddy Krueger" estréia no thriller "sério" com Vôo Noturno. Especialmente nos dois primeiros terços de filme, o veterano Wes Craven mostra que sabe tirar o máximo de suspense em ambientes fechados. Nos últimos minutos a coisa descamba pro vilão imortal (Cillian Murphy apanha mais que os bandidos d'água em Esqueceram de Mim), mas até lá a gente já não tem mais unha. Nota 7,5.

Uma Vida Iluminada tem um visual stáile e é metido a alternativinho, mas no fim das contas machuca tanto quanto um poodle anestesiado. Agora diretor, o eterno coadjuvante Liev Schreiber custa a achar o tom da trama, ora levemente engraçadinha, ora carregadaça de dramaticidade. Não li o livro, mas gosto de pensar que ele é bem superior ao filhote em película. Gostei foi do Frodo - e as musiquinhas são bacanonas. Nota 7.

Traídos pelo Desejo é perfeito, perfeito. Passados 14 anos desde sua estréia (céus... tanto tempo assim?), esse que é um dos meus cults favoritos mantém um frescor que Neil Jordan jamais teve a (sorte? culhão? capacidade?) chance de reproduzir em sua filmografia. Curioso que, após meses de uma campanha de marketing exemplar (nenhum jornalista podia comentar o roteiro com detalhes) a Academia acabou entregando à época a grande surpresa do filme, ao indicar Jaye Davidson como ator coadjuvante. Mas que foi "o" twist, ah, isso foi. E quem presenciou jamais iria pensar que a gloriosa Dil abriria mão da atuação para virar assistente de design de moda em Londres. Mundinho trouxa esse. Nota 10.

Uma das obras máximas do responsável pelo "melhor filme de todos os tempos", A Dama de Shangai mostra um Orson Welles carismático e contracenando com sua então patroa, a gostosérrima Rita Hayworth. Robert Rodriguez e Frank Miller dariam um dedo pra conseguir reproduzir o clima noir da fita, em que um aventureiro irlandês (Welles, com sotaque francamente ridículo) mergulha numa trama labiríntica envolvendo loiras fatais, assassinatos misteriosos, muita luz e sombra e tudo o mais que se encontra num catálogo de film noir. Muito bom, mas prefiro mil vezes A Marca da Maldade. Esse a gente pode chamar de obra-prima. Nota 8.

No fone: Super Furry Animals - "Zoom!"

3 comentários:

MOVIEMAD disse...

Duas surpresas::

* a mesma nota 7 para Uma Vida Iluminada, Cabra-Cega e Bad News Bears?????? eu hein...

* e deeeeeeeeeeeeeeez para Crying Game?? Tudo isso??? Putz... vou lá pegar e ver de novo.... tchau :)

Anônimo disse...

Mais do que justo 10 pro Crying Game, sem dúvidas. Os outros copos , certo.

Anônimo disse...

ai eu vi 20 filmes em 20 dias...
como eu sou bom